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Ferida aberta

Mulheres nordestinas combatem machismo que leva ao feminicídio

Publicado

Autor/Imagem:
Acssa Maria, Edição - Foto Divulgação

No coração quente do Nordeste, onde o sol castiga e a esperança insiste, há uma dor que não se cura com o tempo. Uma ferida aberta, invisível aos olhos apressados, mas sentida em cada casa, em cada silêncio imposto, em cada mulher que cala por medo. É a ferida do machismo, sangrando há séculos, alimentada por uma cultura que ainda confunde força com dominação e amor com posse.

Nas ruas de terra batida e nas avenidas das grandes cidades nordestinas, ecoam histórias de mulheres que se tornaram números — vítimas de um feminicídio que cresce como erva daninha no descuido social. São mães, filhas, companheiras, trabalhadoras que pagam com a vida o preço da masculinidade ferida. Uma masculinidade construída sobre o medo de perder o controle, de admitir a vulnerabilidade, de aceitar a igualdade.

Há algo profundamente doente na forma como se ensina o que é “ser homem”. Desde cedo, os meninos aprendem a engolir o choro, a erguer o peito e a dominar — como se a sensibilidade fosse um pecado e o respeito, uma fraqueza. Crescem acreditando que a mulher é extensão do seu poder, e não um ser livre. Essa crise de gênero é também uma crise de identidade: homens que não sabem amar sem ferir, que não sabem se reconhecer fora do papel de dominadores.

Mas o Nordeste também é terra de resistência. Em meio à dor, florescem vozes que não se calam. Mulheres que marcham, denunciam, criam redes de apoio e rompem o ciclo da violência. Homens que se questionam, que desaprendem o que o patriarcado lhes ensinou, e reaprendem a ser humanos.

A ferida aberta do Nordeste não é apenas das mulheres — é de todos. Curá-la exige coragem: de olhar o machismo de frente, de educar de outra forma, de permitir que o amor não precise do medo para existir. Porque enquanto uma mulher tombar, o Nordeste continuará sangrando — e o silêncio, cúmplice, continuará sendo a mais cruel das violências.

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