O LADO B DA LITERATURA
Murilo Rubião, o maioral do realismo fantástico brasileiro
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O retratado de hoje em O Lado B da Literatura é, sem qualquer resquício de sombra de dúvida, o mais notável escritor brasileiro do gênero realismo fantástico. Trata-se do mineiro de Carmo de Minas Murilo Eugênio Rubião ou, simplesmente, Murilo Rubião, nascido no dia 1º de junho de 1916 e falecido no dia 16 de setembro de 1991, quando, mais jovem do que sou hoje, nos deixou aos 75 anos.
Rubião, além de mestre da arte de fazer literatura, também era jornalista, tendo sido redator da Folha de Minas e diretor da Rádio Inconfidência. Ele sem considerou uma atividade sedutora, o que não é novidade para os que se embrenham por tal caminho. Que os digam gigantes da redação de Notibras: José Seabra, Armando Cardoso, Marta Nobre, Wenceslau Araújo, Mathuzalém Júnior…
Autor do conto ‘ O ex-mágico’, lançado em 1947 e, à época, sem muito sucesso, Murilo Rubião influenciou diversos escritores nacionais, entre os quais podemos facilmente destacar José J. Veiga e Moacyr Scliar.
Mas eis que, enquanto escrevo em voz alta, a minha notável colega de redação, a Cecília Baumann, faz uma inusitada contribuição.
— Condé, acho que o Cadu Matos também.
— É verdade, Ceci.
Como curiosidades sobre o nosso escritor, ele estudou nas cidades de Conceição do Rio Verde e Passa Quatro, tendo concluindo-os no Grupo Escolar Afonso Pena e no Colégio Arnaldo, em Belo Horizonte, onde residiu por décadas. Bacharelou-se em Direito em 1942 pela então Universidade de Minas Gerais, atualmente Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Apesar da quase nenhuma repercussão de ‘O ex-mágico’, Murilo Rubião teve duas imagens pintadas pela prima Aurélia, também Rubião, em 1947. A partir de então, ingressou no meio político, sempre como assessor. E, em 1951, foi chefe de gabinete do então governador Juscelino Kubistchek, futuro presidente da República.
Murilo Rubião também foi adido cultural do Brasil na Espanha entre 1956 e 1961. Já em 1966, organizou o Suplemento Literário do Diário Oficial Minas Gerais, que logo se destacou como um dos melhores órgãos de imprensa cultural do Brasil.
Envolvido com a política, Rubião atingiu fama repentina somente em 1974 com a publicação de ‘O pirotécnico Zacarias’, um dos seus mais lidos contos. E, nos anos seguintes, a sua obra passou a ser reverenciada.
Melhor do que falar sobre Rubião é deixá-lo contar sua história. Por isso, aqui estão algumas de suas observações sobre a própria vida:
“No livro de registro de nascimento da matriz de Silvestre Ferraz, hoje Carmo de Minas, encontro, ao lado meu, os nomes de meus pais: Eugênio Alvares Rubião e Maria Antonieta Ferreira Rubião. 1916. Meu pai, homem de boa cultura humanística, era filólogo e pertenceu à Academia Mineira de Letras. Escrevia com rara elegância, apesar de gramático. Dele herdei a timidez e um certo ar cerimonioso, que me tem privado da simpatia de numerosas pessoas. Algumas delas mulheres, o que é lamentável.”
“Em Belo Horizonte residi vinte e cinco anos. Alguns alegres, outros tristes. Lá pretendo morrer. No cemitério do Bonfim, se não for incômodo para os que me sobreviverem. Cursei grupo escolar, ginásio, Faculdade de Direito, e posso afirmar, sem sombra de orgulho, que jamais fui primeiro aluno em qualquer disciplina. Como escritor, alcancei algum êxito na burocracia das letras. Três vezes presidente da Associação Brasileira de Escritores (Secção de Minas Gerais) e vice-presidente do I Congresso Brasileiro de Escritores.”
“Sete anos levei para escrever e publicar o meu primeiro livro “O Ex-Mágico”. Nem por isso ele saiu melhor.”
“Comecei a ganhar a vida cedo. Trabalhei em uma baleira, vendi livros científicos, fui professor, jornalista, diretor de jornal e de uma estação de rádio. Hoje sou funcionário público.”
“Celibatário e sem crença religiosa. Duas graves lacunas do meu caráter. Alimento, contudo, sólida esperança de me converter ao catolicismo antes que a morte chegue.”
“Muito poderia contar das minhas preferências, da minha solidão, do meu sincero apreço pela espécie humana, da minha persistência em usar pouco cabelo e bigodes excessivos. Mas, o meu maior tédio é ainda falar sobre a minha própria pessoa.”
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Cassiano Condé, 82, gaúcho, deixou de teclar reportagens nas redações por onde passou. Agora finca os pés nas areias da Praia do Cassino, em Rio Grande, onde extrai pérolas que se transformam em crônicas.