Alma solitária
Na Curva de Um Instante
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Num dia sem nome,
tu surgiste como brisa que não avisa,
tocando minha existência
com a leveza de um sonho que não se espera.
Vivemos instantes bordados em ouro,
que hoje repousam como ecos
nas galerias secretas da memória,
onde o tempo não alcança.
À noite, teu calor era constelação viva,
desenhando trilhas na minha pele,
e cada toque teu
era um verso aceso no livro do sentir.
Mas como o perfume das flores se dissipa,
partiste sem despedida,
e eu fiquei naufragada
no silêncio que tua ausência deixou.
Despertar ao teu lado
era como abrir os olhos num campo de luz,
onde o ar se tornava dança,
e o desejo, uma chama que não se apaga.
O tempo passou como rio lento,
a casa tornou-se eco,
e os dias se alongaram
como sombras que esperam por sol.
Tudo o que fomos
descansa agora num relicário de lembranças,
guardado entre pétalas de saudade,
onde só o belo tem permissão para existir.
Amar-te foi minha travessia encantada,
teu olhar um portal para mundos
onde o amor não conhecia fronteiras.
Amei-te como se ama o que é raro,
sem lógica, sem medida,
mas tu não decifrastes esse idioma,
e deixaste-me à deriva.
Desde então,
minha alma caminha só,
e o coração, cauteloso,
pergunta se vale a pena voar
quando já se conheceu o abismo.