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A César o que é de César

Na pandemia ou na enchente, mané sempre será mané

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Mathuzalém Júnior - Foto Antônio Cruz/ABr

Conversa de bêbado ou de damas da noite sem ter o que fazer nos dias de chuva intensa, o conservadorismo no Brasil normalmente se esvai em uma mesa de bar ou, se der certo, em uma cama redonda do tipo casa vermelha. Resumindo, o nacional é conservador até a abertura de um novo crédito extra, da liberação antecipada do décimo-terceiro, da anistia das contas de luz, água e gás ou de uma tragédia na qual os mais extremados perdem bens materiais, membros da família, a vergonha, mas sempre recebe algum para compensar o que se foi. É aí que o pior dos governantes, o considerado corrupto, o esquerdopata, se transforma no maior líder político que o país já teve.

A admiração é maior quando seu antecessor, normalmente o oponente que se acha roubado eleitoralmente, é posto na berlinda, de onde só sairá se jogar mais sujo do que o falso cartão de vacina usado para fugir do fracassado enrosco de 8 de janeiro de 2023. Ao que parece, nem movendo mundos e fundos ele conseguirá sair do atoleiro. Pior para ele é que, ao lado dos admirados Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio tem tudo para ser incluído na História do Brasil como um presidente que deixou saudades. Desses, é Lula da Silva quem mais atormenta os estagiários da sabotagem que, enrolados na bandeira brasileira, gritando palavras de ordem contra a democracia e invadindo prédios públicos, ainda se acham donos da vontade alheia.

Na saúde ou na doença, na desgraça ou na cerveja, o trabalho dos bons preocupa, atazana, apoquenta e aporrinha os paquidermes perebentos, aqueles que se utilizam da tragédia para nadar em círculos, chover no molhado e repetir a cansativa mesmice do funk ou do rap nacional. Perfeição e políticos não são sinônimos. Estão longe disso. Entretanto, a realidade e a expectativa devem novamente se unir para se intrometer no caminho dos vingativos, rancorosos e insuportáveis conservadores. Com disposição para unir o país contra a súcia de sabotadores, Lula deve elevar à estratosfera a tendência de deixar para eles somente a mandioca torta que a Luzia ganhou na horta.

Ainda é cedo, mas, depois de mostrar ao povo que a sujeira envolvendo as empreiteiras é coisa do passado, Luiz Inácio tem a faca e o queijo na mão para se tornar o presidente brasileiro mais longevo do país. Restará para a concorrência algumas condolências pelo fato de ele ter sido o único a não se reeleger desde o advento da reeleição, em 1988. Embora esteja bem à frente do tempo sombrio do adversário, Lula convive com viúvas que, a pretexto de criticar as ações do governo federal, acabam transformando textos produzidos para serem negativos em derretidos elogios à sua administração.

Deputado federal por São Paulo, Eduardo Bolsonaro declarou em suas redes sociais que o Brasil deu sorte de ter Jair Bolsonaro como presidente durante a pandemia de Covid-19. Nem o mais oportunista ou hipócrita dos “patriotas” deve concordar com a tese. Duvido que alguém também tenha esquecido de que foi o pai do moço quem sempre negligenciou todos os conceitos científicos relativos ao clima. Para azar dele, um de seus aliados é credor de suas sandices. Para quem ainda lembra da tabuada, os números definitivamente são claros. Apesar de meio milhão de desalojados, 810 feridos e pouco mais de 120 feridos, o Estado, infelizmente, contabilizou até agora cerca de 150 mortos. Na gripezinha do Jair, foram 38,4 milhões de infectados e 709,7 mil mortes oficiais. Pouca diferença.

Vale registrar que, em nenhum momento da crise, Lula se escondeu em praias paradisíacas ou se esquivou informando ao povo que não é coveiro. Ao contrário do outro, que só comprou vacinas por determinação judicial, Luiz Inácio não tem culpa alguma a respeito do descuido com as comportas do Estado, mas decidiu suspender por três anos a dívida do Rio Grande do Sul, estimada em R$ 93 bilhões e promete apoio financeiro ao governador Eduardo Leite e às demais vítimas das enchentes, incluindo os conservadores de coisa nenhuma. Portanto, dando a César o que é de César, a frase de Dudu Bolsonaro precisa ser corrigida urgentemente. O correto tem de ser: Graças a Deus e a Malafaia o Brasil não tem Jair Bolsonaro como presidente na catástrofe do Sul. Parafraseando aquele ministro que não teme gorila e nem brucutu, na pandemia ou na enchente, mané sempre será mané.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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