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Corrida ao Buriti

Na telinha da Globo o tema é o inimigo do meu inimigo…

Publicado

Autor/Imagem:
Marc Arnoldi

Suas votações no período do impeachment, seus embates com Érika Kokay, sua declaração de voto no Bolsonaro (“um amigo de 39 anos”), sua postura política, seu partido, nada indicava que Alberto Fraga podia um dia fazer dobradinha com um candidato do PT ao Buriti. Miragaya, ardente defensor dos governos vermelhos em geral, e obviamente de Lula em particular, também não parecia predisposto a fazer parceria com o Coronel.

Mas o “milagre” aconteceu na parte final do debate dos pretendentes ao Governo do DF organizado pela TV Globo que entrou na madrugada de quarta-feira. Embalados por uma pergunta do democrata sobre emprego, os dois aproveitar para malhar o alvo preferido da noite: Ibaneis.

Neste exercício peculiar do debate eleitoral, sobretudo quando chega na reta final do primeiro turno, duas coisas são fáceis de identificar: o ou a líder nas pesquisas (e consequentemente o adversário considerado mais forte pelos outros), e as possíveis alianças para o segundo turno.

A campanha 2018 no DF viu primeiramente o Governador Rollemberg ser o alvo principal no início da corrida. Seguindo o roteiro habitual de todos os candidatos à reeleição em qualquer lugar do País, quiçá do mundo, ele começou sua jornada listando as realizações de seu mandato, lamentou não ter feito mais responsabilizando a “herança maldita”, certificou ter “arrumado a casa”, e atribuiu sua forte rejeição ao desconhecimento do balanço pela população (apesar dos quase R$ 290 milhões pagos em propaganda de janeiro de 2015 a junho de 2018).

Quando Eliana Pedrosa passou a encabeçar as pesquisas, também virou alvo das investidas dos concorrentes. Até o Ministério Público do Rio de Janeiro ajudou a mexer com a imagem dela, mas depois reconheceu o erro e fez mea culpa.

Por sinal, a atuação do Judiciário como um todo (magistrados e promotores) está atingindo um nível alarmante nesta eleição, no DF e no Brasil. E o STF, de onde esperava-se sinal de moderação, papel primordial já que é o único Poder que não é sujeito ao controle externo, parece querer apagar o fogo com gasolina.

A construção de “espaços à vocação esportiva e social compostos de gramado e pequena arquibancada” em duas cidades horrorizou alguns candidatos. Inclusive os que, há quatro anos, se desdobravam para poder assistir num dos camarotes VIP do GDF aos jogos da Copa do Mundo.

Mas a bola da vez nesta última semana há de ser Ibaneis. Indicado isolado na frente por um instituto, com língua ferina e acostumado a embates, suas frases assassinas do início de campanha voltam em dobro. Até a Professora Fátima de Sousa aderiu ao time, motivada pelo ambiente belicoso e também pela ausência de qualquer proposta factível em seu programa, que sempre remete a “um plano maior” e desconhecido.

Os ataques frontais têm um mérito: o de oferecer à vítima a oportunidade de esclarecer e se defender, o que os falsos áudios, as montagens fotográficas ou as “bombas” fakeadas circulando em grupos de WhatsApp não permitam. Se Ibaneis conseguiu convencer, os eleitores dirão no domingo. Bem como o Ministério Público Eleitoral, que deverá analisar o agora famoso vídeo (real, este) no acampamento 26 de setembro, e a promessa de reconstruir as casas derrubadas “com dinheiro próprio”.

Este episódio trouxe uma pista para responder à segunda coisa fácil de identificar num debate nesta altura. Quem é compatível com quem no segundo turno. A representação judicial eleitoral tendo sido assinada contra Ibaneis pelo trio de campanhas Eliana, Fraga e Rosso, o apoio mútuo entre os três para quem for classificado para a final está claro. As tabelas tipo levanto-a-bola-para-você-cortar no debate global entre Fátima de Sousa, Miragaya e Rollemberg também indicariam um entendimento, mas é incerta a participação de um expoente do grupo no duelo final.

No âmbito das propostas, Eliana, Rosso e Rollemberg foram os que mais forneceram detalhes e planos factíveis. No caso do atual Governador, alguns itens parecem replay de 2014. Foram prometidos há quatro anos, ainda estão no estado de intenção, para outros, está sendo finalizado o projeto que levará ao estabelecimento de uma proposta visando o lançamento do esboço de edital de licitação.

Teve até notícia de interesse nacional: Rogério Rosso anunciou Jair Bolsonaro ser seu candidato à Presidência da República (Fraga compartilhou a escolha, Fátima de Sousa cerrou fileira atrás de Guilherme Boulos e Julio Miragaya plebiscitou Lula-Haddad).

Sendo Rosso fundador do PSD, ex-líder do partido na Câmara dos Deputados e muito próximo de Gilberto Kassab, é provável que o Presidente nacional tenha sido, no mínimo, informado, do posicionamento. Se confirmado, o desembarque do PSD da candidatura Alckmin será um fato marcante da quarta-feira, à espera do debate presidencial de quinta à noite.

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