O LADO B DA LITERATURA
Narcisa Amália de Campos, genial, invejada e difamada
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A retratada de hoje em O Lado B da Literatura foi a primeira mulher a trabalhar como jornalista profissional no Brasil. Também foi poeta, escritora, tradutora e crítica literária. Trata-se de Narcisa Amália de Campos, figura icônica da nossa literatura.
Nascida em São João da Barra, no estado do Rio de Janeiro, no dia 3 de abril de 1852, era filha do poeta Jácome de Campos e da professora primária Narcisa Inácia de Campos. Estudou latim e francês com o padre Joaquim Francisco da Cruz Paula.
Aos 11 anos, mudou-se para Resende, onde se casou duas vezes, a primeira aos 14 anos, e enfrentou estigma social por causa dos seus dois divórcios.
Narcisa iniciou sua carreira como tradutora de autores franceses e publicou seu único livro, “Nebulosas”, em 1872, com elogios de Machado de Assis e Dom Pedro II. A obra foi premiada com a “lira de ouro” e a pena de ouro da Mocidade Acadêmica do Rio de Janeiro.
O sucesso de Narcisa incomodou um dos seus ex-maridos, que passou a difamá-la. O sujeito, invejoso que era, passou a dizer que os escritos de Narcisa seriam de outros poetas que ela teria casos de amor. Inclusive o escritor Múcio Teixera fez coro à campanha difamatória contra Narcisa, chegando a declarar que o livro “Nebulosas” tinha sido escrito por um homem com pseudônimo de mulher. Tais atitudes apenas demonstram como a masculinidade é frágil há muito tempo, pois muitos homens não suportam o sucesso das mulheres.[
Em 1889, Narcisa foi para o Rio de Janeiro, onde lecionou e fundou o jornal “Gazetinha”, dedicado ao público feminino. Seu livro “Nebulosas” é uma coletânea de poemas que exaltam a natureza, a pátria e a infância, e abordam temas sociais como a abolição da escravatura.
Narcisa faleceu na capital fluminense no dia 24 de julho de 1924 aos 72 anos, cega, pobre e esquecida, mas deixou um legado importante na literatura brasileira. Antes de morrer, ela apelou às mulheres para que escrevessem com paixão e alma. Foi sepultada no Cemitério de São João Batista, no Rio de Janeiro.
Narcisa Amália é lembrada em Resende, onde viveu, com uma rua e uma travessa com seu nome, e também em uma escola municipal no Rio de Janeiro. Em 2019, ela foi homenageada na Feira do Livro de Resende. Sua obra “Nebulosas” é um testemunho de sua coragem e talento como escritora.
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Cassiano Condé, 82, gaúcho, deixou de teclar reportagens nas redações por onde passou. Agora finca os pés nas areias da Praia do Cassino, em Rio Grande, onde extrai pérolas que se transformam em crônicas.