As fases do luto
Negação, raiva, barganha, tristeza e aceitação
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Dizem que o luto tem cinco estágios. Eu descobri que eles aparecem não só quando alguém morre, mas sempre que alguma parte de mim se despede de algo que não volta. Já vivi luto por pessoas, claro, mas também por cidades, por empregos, por amizades que se desmancharam no tempo, por versões de mim mesma que não reconheço mais no espelho.
No começo vem a negação. Ela chega como uma cortina grossa, como se a vida ainda fosse a mesma de ontem. Eu repito para mim mesma que não acabou, que ainda dá tempo, que talvez eu esteja só exagerando. Guardo as roupas antigas, revisito mensagens, mantenho rituais como quem insiste em segurar a areia que escorre pelos dedos.
Depois, quase sem aviso, a raiva me atravessa. É quando eu discuto com Deus, com a vida, com a lógica. Questiono injustiças, penso que merecia outro final, outro caminho. Fico irritada até com o vento que insiste em soprar pela janela. A raiva é barulhenta, mas também é a prova de que ainda há algo pulsando em mim.
Logo chega a barganha, esse estágio estranho em que eu faço acordos imaginários. “Se eu tivesse feito diferente…”, “Se eu tivesse sido mais paciente…”. Tento negociar com o passado como se ele fosse um gerente inflexível, mas disposto a ouvir minha reclamação. Não adianta, claro, mas nesse vai e vem eu vou ensaiando aceitar.
A tristeza é uma visita mais demorada. Ela não chega de uma vez, mas pinga aos poucos. Às vezes é uma música que me derruba, às vezes um cheiro, um objeto esquecido no fundo da gaveta. É um silêncio que dói. Nessa fase, aprendi que chorar não é fraqueza, é irrigar o terreno da alma para que, um dia, nasça algo novo.
E então, um dia, quase sem perceber, a aceitação se instala. Não como um final feliz, mas como a brisa depois da tempestade. Descubro que consigo falar do que perdi sem que minha voz falhe. Descubro que, embora a falta continue, a vida também continua e que eu posso seguir com ela.
O luto, percebo agora, é uma travessia. Não há linha reta nem tempo certo. E cada despedida me ensinou que, mesmo diante da dor, há sempre uma nova forma de viver. Porque, se perder dói, também abre espaço para reencontrar: o outro, a mim mesma, ou simplesmente a vida, sempre teimosa, sempre insistente.