O que ainda se vê
Nem tudo que o importa chama atenção… na verdade, quase nunca chama
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Há gestos que seguem acontecendo fora do campo de visão dos discursos. Não rendem debate, não viram bandeira, não pedem legenda. Acontecem porque alguém decidiu agir assim e pronto.
Tenho observado que o respeito aparece mais na forma do que na intenção declarada. No cuidado com a palavra escolhida. Na opção por não expor. Na recusa em transformar o outro em caricatura só para vencer um argumento.
Autoestima não é performance. Normalmente costuma ser silenciosa. Está em sustentar uma opinião sem agressividade. Em discordar sem desprezo. Em reconhecer limites sem dramatizar.
Empatia, quando existe, raramente se anuncia. Ela se mostra mais na escuta do que na resposta. Mais na pausa do que na reação imediata. Não exige concordância, mas exige contenção.
Solidariedade também não costuma vir embalada como virtude. Aparece de modo prático. Um gesto possível. Uma ajuda sem anúncio. Um entendimento tácito de que a vida já impõe dificuldades suficientes.
Nada disso muda o mundo. Mas muda o clima.
E o clima importa mais do que parece. Ele molda relações, ambientes, decisões pequenas que, somadas, dizem muito sobre como escolhemos conviver.
Mesmo quando o espaço público parece dominado por ruído, antagonismo e certezas absolutas, essas atitudes seguem existindo. Talvez justamente porque não dependem de aprovação, nem de alinhamento, nem de narrativa.
Acontecem porque fazem sentido no nível mais básico da convivência humana.
Há quem chame isso de esperança. Há quem prefira não chamar de nada.
Talvez seja melhor assim. Em tempos de excesso de explicações, o que permanece funcionando é o que não precisa ser explicado.