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Carniceiro do holocausto

Netanyahu, com sangue e cinismo, surge em 2025 como um Hitler revivido

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Autor/Imagem:
Paulus Bakokebas - Foto Reprodução/Sputniknews

Dizem que a história se repete como farsa. Mas, em Gaza, ela insiste em se repetir como tragédia — daquelas que nem Shakespeare ousaria encenar, com medo de parecer exagerado. Na última madrugada, Benjamin Netahyahu, o eterno premiê de Israel — ou o xerife sionista de um território cada vez mais blindado ao remorso — decidiu brincar de Deus. Ou pior: de Hitler redivivo.

Um míssil, batizado ironicamente de “defensivo”, caiu sobre Al-Baqa, um café no litoral da Palestina esquecida no mapa da humanidade, mas vívida no coração de um povo sem nação. Morreram mais de trinta pessoas. Gente. Famílias inteiras. Mulheres embalando filhos no colo e sendo embaladas, em seguida, pelo estertor do silêncio eterno. A contabilidade da guerra, essa matemática macabra, segue firme: corpos empilhados, lágrimas sem túmulo, e um mundo que finge surpresa enquanto finge não ver.

Netahyahu não pediu desculpas. Pediu reforço militar. Exibiu seu míssil como um troféu olímpico, talvez de olho em um novo título: “O Hitler do Século XXI”. Afinal, se os alemães lideraram a indústria da morte no século passado, por que não os judeus reciclarem o conceito em pleno 2025?

Sim, eu disse judeus. Mas não me confundam com os antissemitas de carteirinha. Porque aqui não se fala de fé, se fala de fanatismo. Não se fala de povo, mas de poder. Não se fala de defesa, mas de dominação. O Estado de Israel, que nasceu do trauma do holocausto, parece empenhado em devolver o favor à História — com juros, correção monetária e uma pontaria certeira.

Netahyahu, com seu semblante gélido e seu discurso inflamado, parece gozar do horror alheio como quem assiste a um reality show: “Hoje, no episódio da destruição, mães carbonizadas, crianças decapitadas e um drone que faz zoom no sofrimento”. Tudo isso, é claro, com o apoio técnico de Washington, o aplauso morno da ONU e a cumplicidade muda de quem lucra vendendo tanques enquanto chora em coletivas de imprensa.

O premiê, outrora visto como o bastião da segurança israelense, agora flerta com o título de açougueiro global. O que lhe falta em empatia, sobra em cálculo. Afinal, matar pobres e palestinos nunca rendeu embargo. Rende, sim, manchete. E votos.

A pergunta que ecoa em cada ruína é cruel, mas inevitável: quem será o próximo a morrer para que Netahyahu seja reeleito?

Enquanto isso, a humanidade assiste. Em tela plana. Em silêncio. Em paz — desde que a paz não envolva dividir o pão com os miseráveis de Gaza.

Num mercado próximo, em alguma viela esquecida de Ramallah, quatro personagens observavam a fumaça ao longe — não a do narguilé, mas a que subia dos escombros de Al-Baqa, onde até as gaivotas pareciam ter fugido do litoral.

Hassan Nablut vestia uma camisa encardida com a estampa “Free Palestine” e tomava seu café com a lentidão de quem mastiga a realidade.

— Mataram mais trinta, Miriam. Mulheres, crianças, até um velho que vendia peixe seco na esquina da mesquita. E o mundo? Tuitando condolências.

Rute Malkovich, ex-agente do Mossad aposentada e hoje dona de pensão para refugiados em Belém, ajeitou os óculos e soprou a fumaça do cigarro de cravo.

— Esse Netahyahu não quer mais segurança, meu filho. Quer sangue. E não qualquer sangue. Quer o sangue palestino escorrendo em HD, pra exibir em Jerusalém com legenda em inglês e plateia americana aplaudindo de pé.

O ortodoxo Malievisky, teólogo sem paróquia e apologista da paz armada, bateu com a Bíblia sobre a mesa.

— O nome disso é profanação. Quando o povo que sobreviveu ao holocausto exporta o próprio método como política de Estado… isso não é religião, é revanche!

Rachid Abdallah, comerciante de tâmaras e agitador cultural em tempos de paz, mordeu os lábios.

— Holocausto em capítulos. Ontem foi Rafah, hoje é Al-Baqa. Amanhã seremos nós? Ou será que o míssil já vem com CEP, CPF e horário marcado?

Hassan suspirou, como quem já tinha visto essa novela antes, dublada em mil línguas.

— Miriam, você que conhece esse povo lá do outro lado do muro, me diga: esse homem quer mesmo ser lembrado como o Hitler de quipá?

A ex-agente tragou fundo, deixou a brasa consumir o resto do cigarro e respondeu com o frio na voz:

— Não, Hassan. Ele quer ser lembrado como mais eficiente. Hitler era arcaico, usava campos. Netahyahu usa drones, IA, e uma imprensa cúmplice. O massacre agora tem trilha sonora e tradução simultânea.

Malievisky fez o sinal da cruz. Rachid derramou o chá.

Do outro lado do Mediterrâneo, líderes brindavam com champanhe francês e discursos ocos. O míssil em Al-Baqa já era estatística. E a morte, mais uma vez, vestia uniforme camuflado e falava hebraico com sotaque de Washington.

Na parede do café, um grafite dizia:

“Se Deus está vendo, por que não faz nada?”

Alguém rabiscou embaixo, à caneta:

“Porque está ocupado sendo convocado como testemunha de defesa.”

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