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Campanha sem fim

Ninguém aguenta mais política (nem mesmo os candidatos)

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Autor/Imagem:
Marc Arnoldi

Quando o Congresso Nacional decidiu encurtar as campanhas eleitorais, dividindo pela metade os três meses de debates, panfletagens e contratação de cabos eleitorais, o argumento principal foi o barateamento. Também foram mencionados maiores dinamismo e densidade. As segundas intenções eram claras: a população demostrava um sentimento de nojo dos políticos em geral, envolvidos em todo tipo de falcatruas mas sempre em relação com dinheiro público.

As alternâncias no poder Federal, a proliferação das siglas e o esvaziamento ideológico destas (basta lembrar que o Cabo “Glória a Deus” Daciolo foi militante do PSOL), o movimento incoerente das alianças (nas eleições 2016 no Entorno, havia cidades onde DEM, PSDB e PT estavam na mesma coligação) foram frutos dos partidos e de seus interesses raramente “republicanos”. A fatura eleitoral ameaçava ser salgada, e diminuir o tempo de exposição devia impedir o surgimento de novas lideranças ou ideias.

Funcionou em parte, mas o vento de renovação soprou mais forte do que o sistema queria. Com acesso reduzido às mídias tradicionais, os novos candidatos à deputação distrital ou federal (já que os atuais mandatários utilizavam a força de ser parlamentar para ocupar o espaço político) buscaram outras alternativas. Com sucesso. Várias máximas até mesmo proverbiais da comunicação eleitoral foram por terra.

O sacrossanto tempo de TV, para os quais todos os sacrifícios deviam ser feitos, tem o peso da mediocridade. A campanha para Presidente é exemplo disso. O conhecimento e reconhecimento do nome também não foram preponderantes, várias “celebridades” do mundo político não atraíram o eleitor, até mesmo a ex-Presidente da República.

As campanhas foram mais baratas em 2018, mesmo considerando que as somas declaradas ao TSE só representaram uma parte do custo. Não precisa ser contabilista para reparar que o volume visível de certa caminhada ao Buriti foi maior que outras, ou que algumas campanhas, proporcionais e majoritária, tinham caravana humana acompanhando o candidato por pressão de ele ser o patrão ou o detentor da caneta.

Mas o barateamento não foi de tudo positivo. Como o Legislador mandou a conta das campanhas ao Erário, ou seja, ao bolso de todos nós, é louvável que alguns milhões de reais tenham sido poupados. Resta a saber o que será feito deste dinheiro público: Leila do Vôlei, por exemplo, eleita Senadora, recebeu do Fundo Especial para as eleições R$ 3 milhões. Gastou cerca de R$ 600 mil. Qual será o destino dos R$ 2,4 milhões sobrando? Ao(s) partido(s) ?

A campanha mais curta e limitada também foi cruel para os desempregados. Havia tradicionalmente essa “janela” de três meses de serviço pontual, mas importante numa cidade de 300 mil desempregados. São serviços que não necessitam de nível superior, e que são descentralizados nas áreas mais populosas e justamente mais vítimas do desemprego estrutural do DF. “Trabalhar na política”, em 2018, só foi lucrativo para as bancas advocatícias e as produtoras de comunicação.

Quanto ao maior “dinamismo” da campanha, ele não parece evidente, particularmente neste segundo turno no DF. É evidente o esgotamento dos assuntos nos debates. Até as perguntas entre candidatos se repetem, exatamente nas mesmas formulações. Nem mesmo as assessorias aguentam a sucessão de face-a-face, onde tudo é previsível: os programas e diagnósticos, os ataques e as defesas, as insinuações e ameaçazinhas veladas.

O excesso de debates matou o debate. Precisa ser reinventando se quiser criar um efeito suficiente para inverter uma tendência que parece consolidada na disputa Ibaneis x Rollemberg. Com as pesquisas congeladas em 75%/25%, o atual Governador precisaria ser um Davi ou um Hércules para virar o jogo. Ou apelar para o tudo ou nada.

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