O LADO B DA LITERATURA
Ninguém nunca foi tão censurado como o inesquecível Plínio Marcos
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O retratado de hoje em O Lado B da Literatura não gostava de estudar e concluiu apenas o ensino primário. Também foi funileiro e até sonhou em ser jogar futebol, tendo atuado na Portuguesa Santista. Entretanto, ao se envolver com o mundo do circo, aos 17 anos, seus caminhos parecem ter sido definidos, inclusive tendo atuado em rádio e televisão na sua cidade natal, Santos-SP. Estou falando do Plínio Marcos, o dramaturgo mais censurado da história do Brasil, o homem que viveu no meio do furacão e nunca se intimidou, tendo enfrentado seus algozes com textos combativos e de resistência contra a Ditadura Militar.
No ano de 1958, foi influenciado pela jornalista Pagu e, então, acabou se envolvendo com teatro amador, ainda em Santos. Foi nessa época que, impressionaod por um caso verídio de um jovem currado na cadeia que escreveu a peça Barrela, sua primeira peça teatral.
Aos 25 anos, em 1960, Plínio decide ir para São Paulo, onde chegou a trabalhar como camelô, ator de teatro e televisão, inclusive atuando no seriado “O Falcão Negro, da antiga TV Tupi. Também foi uma espécie de faz-tudo do grupo Arena, companhia da Cacilda Becker, e o teatro de Nudia Lícia.
Alguns anos mais tarde, precisamente a partir de 1963, Plínio começou a produzir textos para um programa da TV Tupi, o “TV de Vanguarda, onde também trabalhou como técnico. E, já no ano do golpe militar, escreveu o roteiro do espetáculo “Nossa gente, nossa música”. Já em 1965, conseguiu encenar “Reportagem de um tempo mau”, que era uma colagem de textos de vários autores. No entanto, como previsto, tal peça ficou apenas um dia em cartaz.
Um fato pouco conhecido nos dias atuais é que Plínio Marcos viveu o cômico motorista Vitório na clássica novela “Beto Rockfeller”, de 1968. Tal personagem, aliás, foi revivido no cinema, bem como na telenovela “A volta de Beto Rockfeller, de 1973. E, entre trancos e barrancos, o nosso herói sem espada, durante o movimento do cinema marginal, teve duas peças adaptadas pelo direitor Braz Chediak: “A navalha na carne” e “Dois perdidos numa noite suja”.
A marginalidade, o homossexualismo e a violência eram temas de suas peças, incluindo as clássicas “Dois perdidos numa noite suja”, “Balada de um palhaço”, “Navalha na carne” e “Barrela”. As duas últimas, por sinal, foram censuradas, pois, segundo as autoridades da época, eram peças obscenas e que chocariam o público.
Plínio chegou a ser preso e interrogado, já que se recusava a acatar interdições de espetáculos, além da sua costumeira postura de denúncia, que tanto incomodava o regime militar. Um subversivo, como seus algozes gostavam de se mencionar a ele, e que precisava ser combatido para que a ordem pública fosse mantida. Isso porque temas como a vida noturna dos grandes centros não poderiam chegar ao conhecimento do público e, dessa forma, que os travestis e prostitutas ficassem confinados aos becos e não fossem expostos em teatros.
Outros temas que incomodavam muito o Estado eram a marginalidade, o descaso com as populações mais pobres, o subúrbio e a pobreza. Tudo isso batia de frente com o que os militares queriam passar para a população, como se o Brasil vivesse em um mar de rosas.
Plínio Marcos incomodava e, parece, continua incomodando. A própria mídia, até os dias atuais, evita mencionar o seu nome, o que demonstra que ele continua sendo censurado após mais de um quarto de século de sua desencarnação, ocorrida no dia 19 de novembro de 1999, em São Paulo-SP, aos 64 anos. Vida longa à arte engajada!
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Cassiano Condé, 82, gaúcho, deixou de teclar reportagens nas redações por onde passou. Agora finca os pés nas areias da Praia do Cassino, em Rio Grande, onde extrai pérolas que se transformam em crônicas.