Galo cochilou
Ninguém tem força para limar alicerce de Xandão
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Apopléticos, abobados, desatinados e, muitas vezes, apalermados, os bolsonaristas, inclusive o papa da seita, ouvem o galo cantar e já imaginam chuvas com rajadas frescas, seguidas de raios e trovões. Se surpreendem quando percebem que a anunciada trovoada será pouco maior do que o traque solto no ar por um daqueles que adoram sonhar com o circo pegando fogo. Depois da surpresa, vem a decepção, a incredulidade e, sobretudo, a impaciência com o desastroso futuro que os espera.
Digo isso porque, após o espocar de foguetes com o pedido do desacreditado Donald Trump para que o Brasil deixe Jair Bolsonaro em paz, a repercussão negativa apagou o restinho de fumaça que rondava o quartel-general da turma golpista. Alguns minimizam o post do presidente norte-americano. A maioria, porém, recomenda ao líder republicano que honre os votos recebidos, cuide melhor do seu quintal e deixe o nosso por conta de quem ainda tem quase 20 meses de mandato.
Aborrecido, chateado ou louco para dar as cartas por aqui, resta a Trump somente uma saída: engolir a seco Luiz Inácio e todos aqueles que pensam e agem democraticamente. Quanto a Jair Bolsonaro e seus aliados, o silêncio e o aceite definitivo da derrota é o melhor caminho. Calem-se, aguardem nova oportunidade e, se possível, tentem recuperar o que perderam. Mas tentem pelas vias normais e não no grito.
Da mesma forma que a bisonha declaração de Donald Trump só encontrou ouvidos moucos no Brasil, a decisão da Justiça da Flórida de intimar o ministro Alexandre de Moraes deverá ter o mesmo destino: o simbólico arquivo morto. Principal algoz do ex-presidente Jair Messias, Moraes é acusado de violar as leis dos Estados Unidos por solicitar o bloqueio de perfis em redes sociais. Não sou um esperto na área, mas mesmo os leigos, incluindo os fanáticos “patriotas”, sabem que a decisão é do Supremo Tribunal Federal e não da pessoa física Alexandre de Moraes.
Portanto, a ideia de emparedar o xerife Xandão deve ruir por falta de alicerce sustentável, conforme adiantou brilhantemente o jurista, professor e ex-magistrado Wálter Maierovitch, para quem a verdadeira intenção da Justiça dos EUA é tecnicamente ridícula. Lembrando de meus quase 18 anos acompanhando a cúpula do Poder Judiciário, particularmente do STF, TSE e STJ, faço minhas as palavras do mestre Maierovitch. Segundo ele, se fosse no Brasil, que propôs a ação contra Alexandre de Moraes seria sumariamente reprovado no exame da Ordem dos Advogados do Brasil. Moraes ainda não foi intimado pela Justiça da Flórida.
Quando isso ocorrer, caberá à Advocacia-Geral da União (AGU) defendê-lo, pois se trata de questões de Estado. Loucos pela sanção dos lambe-botas de Trump ao ministro, os puxa-sacos de Bolsonaro terão de engolir o choro até quando Deus quiser. Antes de morrerem afogados nas próprias lágrimas, os bajuladores do mito de coisa alguma precisam ser informados de uma vez por todas que, por indicação de Alexandre de Moraes, o Supremo Tribunal deverá autorizar em breve a prisão do ex-presidente por conta da série de crimes cometidos contra a democracia brasileira. Tudo dentro dos conformes e absolutamente de acordo com a Constituição. Gritem, esperneiem, mas morrerão na praia, ou seja, terão de cumprir a decisão final do STF.
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978