Lado B da Literatura
Nísia abriu caminho na floresta com letras para dar espaço às mulheres
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Nísia Floresta foi uma sugestão da minha colega Cecília Baumann, a Ceci, para O Lado B da Literatura. E como não acatá-la? Então, vou tentar fazer um texto à altura dos renomados jornalistas de Notibras, José Seabra, vulgo Chefe, e Armando Cardoso, carinhosamente apelidado de Presidente na nossa redação.
A nossa retratada de hoje nasceu Dionísia Gonçalves Pinto em Papari, atualmente Nísia Floresta, no Rio Grande do Norte, em 12 de outubro de 1810. Educadora, escritora e poetisa, adotou o pseudônimo Nísia Floresta Brasileira Augusta ou, simplesmente, Nísia Floresta.
Nísia foi pioneira na educação feminista no Brasil, tendo atuado com notável protagonismo nas letras, no jornalismo e nos movimentos sociais. Também foi abolicionista e republicana, apesar de ter falecido mais de quatro anos antes da queda de Dom Pedro II. E, em um cenário de mulheres reclusas ao casamento e à maternidade, Nísia foi a primeira mulher a publicar textos em jornais, isso quando a imprensa brasileira ainda dava os primeiros passos.
Nísia Floresta denunciou injustiças contra escravizados e indígenas. Certamente, uma voz corajosa diante de uma sociedade patriarcal, escravocrata e calcada no eurocentrismo.
A nossa baluarte da literatura também dirigiu um colégio para meninas no Rio de Janeiro, além de escrever diversas obras em prol dos direitos das mulheres, indígenas e escravizados. Ainda mais, não se furtou a se envolver em questões culturais de seu tempo, tendo militado sob diversas vertentes. Tanto é que Veríssimo de Melo se referiu a ela de maneira honrosa: “Nísia Floresta Brasileira Augusta foi a mais notável mulher que a História do Rio Grande do Norte registra”. E quem sou eu para discordar desse homem que foi advogado, juiz, antropólogo, professor de Etnografia do Brasil da Faculdade de Filosofia de Natal e de Antropologia Cultural da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, além de jornalista?
Aos 13 anos, Nísia foi forçada a casar com um fazendeiro, mas logo retornou à casa dos pais. Era costume, naquela época, meninas tão jovens casarem. E o fato da pequena Nísia romper o matrimônio foi algo avançado para época, o que não lhe poupou de comentários maldosos da sociedade. E, se hoje em dia as mulheres já são vítimas de preconceitos, imagina, então, lá na primeira metade do século XIX.
O ano de 1831 foi fundamental na vida dessa mulher, já que foi quando ocorrem as suas primeiras publicações no jornal pernambucano “Espelho das Brasileiras”. Ela publica uma série de artigos sobre a condição feminina.
No ano seguinte, Nísia publica seu primeiro livro, intitulado “Direito das Mulheres e Injustiça dos Homens”. E é justamente aí que ela assina pela primeira vez com seu pseudônimo de Nísia Floresta Brasileira Augusta. Uma curiosidade é que Floresta era o nome da fazenda onde nasceu, Brasileira pelo orgulho de seu país. Já Augusta foi uma homenagem e recordação de seu segundo companheiro e grande amor, Manuel Augusto de Farias Rocha.
A partir da publicação dessa obra de incontestável envergadura, Nísia Floresta ganha o título de pioneira no movimento feminista brasileiro. Ela denuncia o estado de inferioridade em que viviam as mulheres de sua época e procura romper com os preconceitos que as cercavam.
Nísia também passa a escrever e publicar contos, poesias, novelas e ensaios em periódicos em Recife, que, em seguida, passam a sair em jornais da então capital do país, o Rio de Janeiro.
Em 1841, Nísia publicou seu segundo livro, “Conselhos à Minha Filha”, que foi um presente de aniversário para Lívia, que completava 1 anos. Entretanto, a partir de 1847, seus textos passam a contemplar mais a educação, mesmo que nunca tenha abandonado a bandeira da igualdade de gênero.
Outras obras de destaque da nossa prolífera autora são: “Daciz” ou “A Jovem Completa”, “Fany” ou “O Modelo das Donzelas”, “Discurso Que às Educandas Dirigiu Nísia Floresta Brasileira Augusta”, “Opúsculo Humanitário”.
Nísia Floresta, uma mulher à frente do seu tempo, faleceu no dia 24 de abril de 1885. Estava com 74 anos, quando sucumbiu à pneumonia, na cidade francesa Ruão. Foi enterrada em um cemitério público da cidade francesa de Bonsecours, na Normandia. Mas, em agosto de 1954, seus despojos foram levados para sua cidade natal, onde foram depositados na igreja matriz e, depois, levados para um túmulo na fazenda Floresta, local de seu nascimento. O ciclo de vida foi fechado, mas ressoa ainda hoje nos nossos dias.
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Cassiano Condé, 81, gaúcho, deixou de teclar reportagens nas redações por onde passou. Agora finca os pés nas areias da Praia do Cassino, em Rio Grande, onde extrai pérolas que se transformam em crônicas.