Reciprocidade no bordel
No Brasil de Lula, o pau que dá em Donald é o mesmo que dá em Trump
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Como normalmente ocorre ao redor do mundo, o mercado informal sempre se antecipa às decisões governamentais. Não poderia ser diferente no Brasil da burocratização e das reuniões até para decidir o sexo dos anjos. De modo subversivo, mas patrioticamente rápido, do tipo pau a pau, determinados segmentos da economia nacional se anteciparam às normas oficiais da Lei de Reciprocidade. Dona de um famoso bordel em Porto Alegre, Tia Dolores decidiu não esperar pela decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Por sua conta e risco, faz uma semana que ela vem taxando em 50% os clientes norte-americanos que adentrassem seu recinto do prazer, do purgatório e do caos. Se a entrada fosse sucedida da saliência sucedânea, aquela com coisa por detrás que substitui a outra coisa fronteiriça, a tabela impunha uma sobretaxa de 50%. Nada abusivo por se tratar de um plano diferenciado e pouco republicano. A decisão da empresária gaúcha do sexo se estendeu por várias cidades do país, principalmente as do Nordeste, cuja população em breve estará novamente nos braços do Morfeu de Garanhuns.
Em Fortaleza e no sertão cearense, por exemplo, até o saquinho do maçarico está sendo taxado em 50%. No português falado, televisado e radiofonizado do Nordeste, a tradução da Lei de Reciprocidade é simples: Se querem chapuletar sem dó e sem piedade o nosso caneco, meta o rabo entre as pernas antes que a gente deixe ocês chei dos pau e chibate a ruela d’ocês tudim. Tudo de acordo com a tese de que o pau que dá em Donald é o mesmo que dá em Trump e, às vezes, sobra para Messias.
No caso em análise, sobrou muito mais do que o pau. Como diz o velho deitado, ajoelhou tem de rezar. Como o jogo só termina quando acaba, no Brasil as madames das casas similares à de Tia Dolores mandaram afixar na entrada de suas casas de vadiagem séria a seguinte mensagem: Brasil, quem te ama não te USA. Em letras menores, mas em verde e amarelo ouro, está escrito: Aqui, nós não aceitamos provocações. Se vem para trupicar, a casa é sua. Agora, se queres ser trupicado, pague a sobretaxa, passe a vaselina, levante a cabeça, balance o esqueleto, segure o choro e aguarde que Kid Bengala já vai lhe atender. E segue o baile no palco do cabaré pegando fogo.
No escurinho do bordel, vale tudo, inclusive tarifar, mesmo sem autorização prévia, o tarifaço de “patriotas” que defenderam e defendem a taxação do povo brasileiro. Essa norma tem de ser aplicada principalmente aos patéticos e autofágicos parlamentares evangélicos que aprovaram uma “moção de louvor” a Donald Trump, cujo Al Bilall mais parece uma espiga de milho surtada e atrofiada pelo susto com a sombra da imagem do Mike Tyson nu. Ainda que hipotética, essa situação certamente não era de amor. Como na composição do grupo Molejo, era uma cilada.
Sorte nossa que o rufião Donald Trump está longe de nós. Se estivesse perto, a essa altura estaria tentando novamente usar seu lacaio brasileiro para transformar o Brasil de novo em algo parecido com um cabaré. Só não digo que o Brasil presidido pelos bolsonaristas era um cabaré porque um cabaré é mais organizado e tem regras. Sou daqueles que entra em cabaré que tem a placa de ambiente familiar afixada na porta de entrada. Por isso, jamais votaria ou votarei em alguém sob a tutela de Jair Messias Bolsonaro. Sobre Trump e suas ameaças, lembro um outro famoso ditado popular produzido para gringos metidos a besta: de frescura em frescura, a gente manda ir se lascar.
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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras