Protótipos da imperfeição
Nocivos à sociedade, extremistas começam a ter vergonha do que são
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Narcisista por definição, insubstituível por convicção e “patriota” por devoção, a turma da extrema-direita, conhecida no Brasil pelo apelido de bolsonarista, não consegue olhar o próprio rabo. A dificuldade é deliberada, pois seus integrantes temem encontrar na ponta um mito descabelado e com chifres. São o que são porque devem ter ouvido de algum dos estultos que seguem que são diferentes, superiores. Se fossem mais humildes, veriam que são tão imperfeitos como o protótipo da imperfeição.
Também perceberiam que não são tão bonitinhos como se pintam e que, no dia do juízo final, irão cheirar tão mal como qualquer mortal. Não perdem a velha e tosca mania de achar feio, ruim, mal-acabado e nojento tudo que não caiba no balaio dourado que criaram para embalar seus sonhos de poder eterno. Sem qualquer pudor, acham que Lula e os chamados “comunistas” se assemelham ao purgante. São tão arrogantes que esquecem que eles são o efeito. Mais realistas do que o rei, não assumem seus erros com a mesma intensidade do orgulho que têm em exibir suas qualidades. Em resumo, errar é humano, assumir o erro é caráter.
Não sou jurado de almas, tampouco tenho capacidade para julgar um semelhante. No entanto, tenho o direito – e o dever – de mostrar o quanto detestáveis são aqueles que mordem e assopram. São os que se vestem com peles de cordeiro, mas, na primeira oportunidade, declaram seus instintos de predador. Refiro-me aos simpatizantes da extrema-direita que apostam no caos, mas morrem de vergonha de serem taxados de nocivos à sociedade, de quase párias da maioria da população civilizada. É fato que o conservadorismo jurássico, maldoso e revanchista vem crescendo a passos largos em boa parte do mundo.
Também é verdade que os simpatizantes desse perfil tacanho estão desgastados e tendem a se perpetuar somente como seitas e não como grupos potencialmente capazes de algum controle coletivo. Já dizia o poeta que a mente é como paraquedas…Só funciona se estiver aberta. Uma das mais antigas e radicais do globo terrestre, a comunidade extremista da Alemanha parece que está se conscientizando de que, sem as mudanças exigidas pela evolução humana, pode acabar no limbo. Com medo do futuro que se avizinha, o partido Alternativa para a Alemanha (AfD) recorreu recentemente à Justiça local com um pedido, no mínimo, inusitado.
Sob vigilância diária das forças de segurança alemãs, seus líderes tentam escapar desse monitoramento contestando judicialmente a classificação de extrema-direita. Ou seja, factualmente eles são de extrema-direita, mas filosoficamente não querem ser de extrema-direita. É a mesma baboseira em todo canto. A verdade é que o predicado vem assustando extremistas em todo o planeta, notadamente no Brasil, onde eles articularam e quase concretizaram o golpe, mas o negam, sob o argumento de que foi mais uma mentira da esquerda, dos “comunistas”. É ter vergonha de ser o que realmente são.
Não à toa, o bolsonarismo raiz dá sinais evidentes de que aceita o mea culpa do general Hamilton Mourão, ex-vice-presidente da República. Segundo o atual senador, o líder dos extremistas brasileiros perdeu melancolicamente a eleição e deveria assumir a derrota. Longe de mim querer botar palavras não ditas na boca do general, mas, a meu ver, é óbvio que a melancolia do governo Bolsonaro foi decorrente de sua inércia. Tanto que colar nomes de presidenciáveis ao dele é sinônimo de derrota antecipada. Como diria aquele governador que manda matar e só depois pergunta se o indigitado tinha título de eleitor, ame-o ou deixe-o. Adivinhem qual a alternativa escolhida pelos governadores que pensam disputar com Lula da Silva a eleição presidencial de 2026? Errou quem apostou no amor.
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978