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Dó ré mi...

Nordeste resiste com o canto que afaga as dores

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Autor/Imagem:
Júlia Severo - Foto Divisão de Artes/IA

No Nordeste, a música é mais do que som. É história que pulsa, memória que dança, resistência que vibra em cada acorde. Ela ecoa pelas ruas de pedra, pelo sertão ressequido, pelas praias douradas e pelas feiras lotadas de cores, aromas e sabores. É o coração de um povo que transforma sua vida em melodia e sua cultura em identidade.

Quando Luiz Gonzaga começou a tocar sua sanfona no interior de Pernambuco, ele não apenas criou músicas; ele deu voz ao sertanejo, à seca, ao amor, à fé e à esperança. O baião, o xote e o forró não eram apenas ritmos: eram relatos da vida nordestina, instrumentos de preservação cultural e bandeiras de pertencimento. Cada acorde traduzia um território, cada verso narrava uma história de luta e superação.

A música nordestina sempre foi resistência. Nos cordéis, nos repentistas, nas cantorias de vaquejada, os versos cantados denunciavam injustiças, celebravam vitórias e educavam a comunidade. A tradição não era estática: era arma e abrigo, protesto e festa. Ela ensinava que a cultura poderia sobreviver a tudo — à seca, à fome, às desigualdades — e ainda se renovar com cada geração.

Hoje, o Nordeste se reinventa sem esquecer suas raízes. O forró eletrônico e o piseiro conquistaram palcos nacionais e internacionais, levando nomes como Zé Vaqueiro e Barões da Pisadinha a multidões sedentas por dança e alegria. Enquanto o ritmo moderno pulsa nos aplicativos e nas pistas de dança, a sanfona, a zabumba e o triângulo seguem reverberando nas festas juninas e nos concertos de música regional. É a tradição dialogando com a modernidade, criando uma identidade viva e mutante.

Poucas expressões culturais conseguem unir tanto avós, pais e filhos como a música nordestina. Em cada festa junina, as gerações se encontram ao redor da fogueira, compartilhando memórias e inventando novos passos. É nesse encontro de passado e presente que o Nordeste reafirma sua força e sua beleza, mostrando que cada nota é ponte entre o que foi, o que é e o que ainda será.

No Nordeste, cantar é existir, dançar é resistir, compor é eternizar. A música é a marca de uma cultura que se recusa a ser esquecida. Ela traduz dores, alegrias, amores e esperanças, e faz de cada nordestino um guardião de sua própria história. Enquanto houver sanfona, zabumba e triângulo, o Nordeste seguirá cantando, dançando e encantando o Brasil e o mundo.

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