Crise hídrica
Nordeste tem seca profunda e desigualdade, mas segue sempre em frente
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O chão racha, o sol castiga, e o vento sopra seco, como se quisesse levar embora até a esperança. No sertão nordestino, a seca não é apenas um fenômeno natural — é uma velha conhecida, uma visitante constante que chega sem pedir licença e demora a ir embora. Cada fissura na terra conta uma história de resistência, mas também de desigualdade.
Enquanto alguns esperam o caminhão-pipa que talvez chegue, outros assistem a piscinas sendo enchidas nas capitais próximas. A água, que deveria ser direito, torna-se privilégio. Nas cidades, o desperdício; no interior, o racionamento e o improviso. A crise hídrica não escolhe lugar, mas a desigualdade escolhe quem mais sofre.
Dona Zefinha, com o balde na cabeça e o olhar firme, segue caminhando léguas em busca de um fio d’água. O corpo cansado contrasta com a alma teimosa — porque desistir, por ali, nunca foi opção. O sertanejo aprendeu a fazer do pouco o bastante e a transformar a falta em força.
Mas até a força tem limite. As promessas políticas evaporam junto com o último açude, e o futuro parece árido como o chão queimada de sol. Ainda assim, entre o pó e o calor, brota uma fé silenciosa — a fé de quem acredita que um dia a chuva virá, e com ela, a justiça que o sertão tanto espera.
O Nordeste segue, resiliente, com o coração quente e o olhar no horizonte. Porque por aqui, até a seca ensina: ensina a resistir, a reinventar e a sonhar com um amanhã mais úmido — não apenas de água, mas de igualdade.