Morador de rua
Nossas cidades estão lotadas de cidadãos invisíveis
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Nas avenidas iluminadas, corpos deitados no chão parecem ruídos na paisagem. São os chamados moradores de rua termo frio para quem deveria ser sujeito de direitos. As estatísticas crescem, os relatórios apontam “aumento da população em situação de rua”, mas o cotidiano segue normalizado: quem passa desvia o olhar, apressa o passo.
Como se a miséria fosse uma escolha, e não o produto de um Estado que falhou em garantir o básico. A antropologia urbana já ensinou que a cidade não é apenas espaço físico, mas território de disputas simbólicas: quem tem direito ao asfalto, quem pertence à praça, quem é dono do banco de concreto?
Quando políticas públicas se reduzem a abrigos superlotados e higienizações violentas, a mensagem é clara: há corpos descartáveis. Bourdieu diria que o habitus desses sujeitos já foi violentamente reconfigurado para sobreviver ao desamparo. Mas como etnógrafa, percebo que resistem, criam redes, compartilham pão e afetos.
A cidade não os vê, mas eles se veem. A pergunta é: até quando vamos permitir que o espaço urbano seja palco de exclusão legitimada pela indiferença?