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Urgência emocional

O amor que esquecemos de ser

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Autor/Imagem:
Emanuelle Nascimento - Foto Francisco Filipino

Estamos tão necessitados de amor que esquecemos que, às vezes, ele não está nos outros, está em nós. Vivemos numa era de afetos urgentes, onde todo mundo quer ser amado, mas poucos querem se amar.

Corremos atrás de mensagens, respostas, presenças, como se o amor fosse algo que o outro tem, e a gente não. Mas esquecemos que antes de ser encontro, o amor é morada.

Talvez o problema seja esse: queremos que o outro nos salve daquilo que só nós podemos curar. Pedimos que o outro nos acalme, mas não sabemos nos escutar.

Queremos que nos vejam, mas raramente paramos para nos olhar. E o resultado é um mundo de pessoas juntas, mas solitárias. Conectadas, mas vazias.

Há uma urgência emocional disfarçada de romance. Gente que confunde amor com distração, cuidado com controle, companhia com anestesia. Vivemos em busca do “alguém” que dê sentido ao que deveríamos ter aprendido a sustentar sozinhos: a própria existência.

O amor virou muleta para quem desaprendeu a andar com o próprio coração. Queremos ser amados não para crescer, mas para não sentir o peso do silêncio. E é nesse vazio, nesse desespero por pertencimento, que a gente se perde.

Não é falta de amor no mundo, é falta de pausa. Amar exige presença, e presença exige tempo. Mas vivemos apressados demais para permanecer, impacientes demais para compreender.

Queremos o amor instantâneo, a cura rápida, o afeto imediato. E esquecemos que tudo o que vem depressa demais, vai embora com a mesma velocidade.

Talvez amar seja, antes de tudo, um ato de recolhimento.

Aprender a estar consigo.

Aprender a se cuidar sem culpa.

Aprender a se acolher sem depender da aprovação do outro.

Porque o amor que vem de fora é sempre reflexo do amor que já existe dentro.

E quando não há nada dentro, o reflexo também se apaga.

Nós nos esquecemos de ser amor. De sermos ternos conosco, pacientes com nossas falhas, gentis com nossas dores.

Fomos ensinados a buscar, não a habitar. E agora, cansados, tentamos preencher a alma com presenças que não curam.

O amor que salva não é o que nos completa, é o que nos lembra que já somos inteiros.

Mas, para entender isso, é preciso atravessar o deserto da solidão sem desespero. É preciso suportar o eco, o silêncio, a falta, até perceber que há vida mesmo quando não há aplauso.

Amar-se não é egoísmo, é sobrevivência. É saber que ninguém vai ficar para sempre, mas que você pode continuar mesmo assim. É construir dentro de si o abrigo que tanto pediu ao outro.

E um dia, sem perceber, o amor aparece não como promessa, mas como partilha. Não como necessidade, mas como escolha. Porque, quando o amor nasce em nós, ele deixa de ser imploração e vira generosidade.

O amor não está perdido, apenas está esperando que a gente volte pra casa. E essa casa, por mais que o mundo diga o contrário, sempre foi dentro da gente.

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