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Nossos defeitos

O FLAUTISTA DE HAMELIN

Publicado

Autor/Imagem:
Tania Miranda - Foto Francisco Filipino

Um de nossos maiores defeitos… que costumamos ver como se fosse uma qualidade… é nos considerarmos mais importantes do que realmente somos. Normalmente nos vemos como aquele que pode resolver todos os problemas que surgem e, não raro, temos sempre uma solução para tudo. Nossa autoconfiança é tamanha que, muitas vezes, costumamos dar nossos palpites mesmo quando tais não foram solicitados. E isso não é bom, é claro…

Nos consideramos experts em todos os segmentos e temos sempre algo a dizer sobre o assunto do momento. Geralmente até elogiamos determinadas situações, embora algumas vezes sejamos cruéis em nossas colocações. O pior é que “não fazemos por mal”… as palavras simplesmente escapam de nossa boca…

Há pessoas que se policiam para que tal não aconteça e não rasgue a delicada cortina que protege as relações sociais. Outras não conseguem tal intento e, para não cometerem tais gafes, costumam se isolar dos grupos. Não porque não queiram participar do núcleo social, simplesmente tenta evitar ser desagradáveis com suas opiniões…

Temos opiniões formadas sobre todos os assuntos. Não importa se a questão em pauta é política, religiosa ou social. Estamos sempre inteiradas do assunto e nossa visão sobre tal é a mais coerente… ou pelo menos assim pensamos. Seja qual for a linha em questão, se começarmos uma discussão sobre essa podemos chegar, inclusive, às vias de fato. Porque temos a convicção de que nosso ponto de vista é o único correto, nos esquecendo de que a verdade tem múltiplas facetas…

Os três núcleos, embora aparentemente sejam divergentes, em sua essência são a mesma coisa. A devoção que temos quanto a nossas ideias faz com que a importância de determinado político se iguale a influência de um deus qualquer que, convenhamos, é uma entidade inexistente… mas que mesmo assim tem força para moldar nossas ações…

Não estou dizendo que Deus não existe… de forma alguma. O que eu quis dizer é que criamos deuses a todo momento e temos um panteão de protetores invisíveis, que são clamados para nos auxiliar nos momentos difíceis que atravessamos durante nossa caminhada…

Ficou confuso? Sim, concordo que parece que misturei as estações. Mas a explicação é simples… existe uma Força Poderosa, Criadora, que possibilitou a existência de tudo que vemos ao nosso redor. A essa força, que não temos como mensurar, eu chamo de “Altíssimo”. Ele existe, independente de acreditarmos ou não. Está ao nosso lado a todo instante. Está no nascimento de uma nova vida, no fenecer de outra. Segue um ciclo que não entendemos, e talvez não tenhamos mesmo que entender… apenas viver…

Bem, quando falamos de religião, devido a nossa ignorância, costumamos dar a essa Força Primordial nomes que imaginamos poder descrevê-la. E cada um cria seu próprio deus pessoal, criando uma imagem à sua semelhança… não costumamos dizer que Deus criou o Homem à sua imagem e semelhança? Pois é…

O problema nessa nossa concepção do divino é que cada um imagina o pai eterno de acordo com sua conveniência. Ou seja… meu deus apoia tudo que faço em seu nome, pois sou protegido por ele. E minhas ações são ditadas por sua vontade…

Vendo a “intervenção divina” dessa maneira simplista torna tudo mais simples, mais palatável. Afinal, não importa o que eu faça, estarei cumprindo um propósito que não é meu, é daquele a quem sirvo. E como sei que estou seguindo seus desejos? Bem, há várias maneiras. Mas a principal é ouvir as orientações dos ungidos que meu deus deixou nesse plano, para nos orientar em como satisfazê-lo…

Não se engane… nem sempre seguir uma religião é fazer o bem para seu próximo. Se tal correspondesse à realidade, considerando a quantidade de igrejas espalhadas por esse mundo sem fim, viveríamos no Paraíso. Nas na vida real não é isso o que acontece…

O mais esdrúxulo nessa situação é quando dois grupos, teoricamente seguidores da mesma fé, entram em conflito em nome de seu deus… seus líderes religiosos abençoam as tropas que entrarão em conflito, pedindo a “proteção divina”…

Quando são duas vertentes religiosas diferentes até dá para tentar entender a querela que se iniciará… afinal, o deus de sua fé é o demônio da minha. Nossa ótica distorcida não percebe que há uma única força que controla o mundo e, no afã de tornarmos apenas nosso deus reconhecido como o criador de tudo, partimos para as vias de fato contra os infiéis que não aceitam nossa verdade, que é a única verdadeira…

Essa constante se repete também em outros segmentos de nossa vida social. Quando o assunto é política, temos nossos deuses de pés de barro que costumamos defender até com nossa vida, se necessário for. Porque nossos escolhidos têm consigo a verdade que tanto necessitamos conhecer… pena que essa verdade seja favorável apenas a eles e seus favoritos…

Nos grupos sociais, não importa de que natureza sejam, a mesma história se repete. Os líderes são tratados como deuses e sua palavra é a lei que todos seguem. Mas aí dá para percebermos quão incoerentes somos…

Dificilmente pertencemos a um único núcleo social e tal faz com que acabemos por participar de grupos muitas vezes antagônicos. Ou seja, acabamos por nos tornar inimigos de nós mesmo, visto que ao participarmos de determinada ação estaremos contradizendo aquilo que em outro momento consideramos como a única verdade de nossa vida…

A vida é feita de ironias. Nem sempre as percebemos. Mas é de nossa índole. Afinal, somos cooptados a todo instante para seguir novas diretrizes… e se o líder de tal grupo tiver uma excelente oratória, como o Flautista de Hamelin irá nos convencer a seguir um caminho que nada de bom irá trazer para nossas vidas… mas o que importa é o que o núcleo social ao qual pensamos pertencer decide sobre nós, não é mesmo?…

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