Retrospectivas
O Javali, o Galo e a Cobra
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Javali, Galo e a Cobra são vistos como energias densas que bloqueiam a iluminação, mas podem ser transformadas em sabedoria por meio de práticas que conduzem à libertação.
Considerando a escrita como prática iluminadora, hoje acordei querendo banir o ranço que há no meu Javali, ou seja, naquele ícone que refere a como a gente se apresenta e de como cria narrativas.
Mas eis que surge a Cobra que me sacode com cenas de minha autoria, tais como as contidas em: Dissimulada, reacionária, usa e abusa sem pagar nada, publicado em 22/02/2025 – e A volta da Síndica Sem-Noção, agora no dia em que pegaram o capitão”, em 01/04/2025. Ambos retratam autoritarismo, maus tratos e intrigas num condomínio residencial.
O guizo da Cobra se ouve ainda na publicação de 21/11/2025: Palavra de homem branco – um poema visual em que o autoritarismo e as intrigas são colocadas no âmbito político social . Trata-se de um protesto ao legislador que promulga leis em benefício próprio desde a época de Moisés do Velho Testamento até Derrite do Congresso Brasileiro de 2025.
Meu lado Javali tende a se vitimizar e chorar o leite derramado. Então penso que o ano quase termina e ainda não fizemos a festa de lançamento do livro Rapsódia da Rua da Mooca à revelia de termos concluído a história no mês de agosto.
O Galo não me acode, mas me sacode. Começo a ouvir seu canto que me desperta para o trabalho de perene reconstrução de identidade.
Penso na linda experiência de 2025 que foi o processo de escrita coletiva em que Eduardo Martínez, Gilberto Motta, Marlene Xavier Nobre, Rosilene Souza e eu (Edna Domenica ) nos dedicamos. Lembro- me de que ganhamos um prefácio simplesmente maravilhoso das mãos de Cecília Baumann e do qual antecipo: “Estar diante da Rapsódia da Rua da Mooca é também estar diante de um desses encontros improváveis, um desses sopros de genialidade coletiva, linhas entrelaçadas que desenham mais do que histórias: são pontes, afetos e espelhos da vida.” .
E o ícone Cobra se esvai desenxabido. Balançando a extremidade oposta ao rabo. parece comentar sobre mim:
— Não acredito! Não é que ela deu a volta por cima?
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EDNA DOMENICA é autora de Aquecendo a produção na sala de aula (Nativa, 2001), Cora, coração (Nova Letra, 2011), A volta do contador de histórias (Nova Letra, 2011), No ano do dragão (Postmix, 2012), De que são feitas as histórias ( Postmix, 2014), Relógio de Memórias – cartas de uma artesã da escrita (Postmix, 2017), As Marias de San Gennaro (Insular, 2019), O Setênio (Tão Livros Editora, 2024).