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Tem até assombrações

O lado místico e encantado do folclore brasileiro

Publicado

Autor/Imagem:
Anabelle Santa'cruz - Foto Editoria de Artes/IA

O folclore brasileiro não é apenas um conjunto de histórias contadas ao pé da fogueira. Ele é, antes de tudo, um tecido vivo de forças espirituais, arquétipos ancestrais e energias da natureza que atravessam séculos.

Cada personagem carrega um mistério, uma função, um ensinamento — e, sobretudo, um vínculo profundo com as raízes místicas do povo.

A seguir, mergulhamos nos principais seres míticos do Brasil, observando não só suas histórias, mas o significado oculto que pulsa por trás de cada figura.

Saci-Pererê
Como o guardião do caos criativo – e bem mais do que um travesso de gorro vermelho -, o Saci é a personificação do espírito brincalhão da floresta, aquele que lembra ao viajante que nem tudo pode ser controlado.

Seu redemoinho é símbolo de transmutação: onde ele passa, algo muda — e nem sempre para pior.

No imaginário místico, o Saci representa:

a quebra de rotinas rígidas,

o desafio aos soberbos,

a força de adaptação.

Quando o vento gira de forma inesperada, dizem que é ele anunciando a necessidade de movimento.

Curupira
O guardião das veredas sagradas, com pés virados para trás e cabelos flamejantes, o Curupira é uma entidade espiritual que protege o equilíbrio da mata.

Seu aspecto desafia a lógica humana justamente para confundir predadores e abusadores da natureza.

Energeticamente, é símbolo de:

proteção ancestral,

justiça natural,

o fogo da vida que existe em cada árvore.

Nas práticas místicas, é lembrado como o espírito que pune o excesso e abençoa a harmonia.

Iara
A Mãe-d’Água é sensual, bela e perigosa, mas sua essência vai além da sedução.

Dona da voz encantada das águas, a Iara é o arquétipo da energia feminina profunda, aquela que nasce das águas calmas mas esconde correntezas intensas.

Ela simboliza:

o poder da intuição,

o magnetismo emocional,

o encanto que leva à transformação interior.

Quem a ouve cantar em sonhos pode estar sendo chamado para lidar com emoções reprimidas.

Boitatá
A serpente flamejante que protege campos e florestas da destruição é, no plano místico, um grande olho ardente da terra.

Ela enxerga tudo, inclusive aquilo que os humanos escondem. Em síntese, Boitatá, a serpente de fogo que vigia a noite, represente, por seu fogo, o que se segue, segundo o folclore

purificação,

verdade revelada,

defesa contra energias inferiores.

Dizem que quem vê sua luz ao longe está sendo avisado para não se desviar de seu caminho interior.

Mula-sem-Cabeça
A maldição do desejo proibido, do tipo figura de penitência e dor, a Mula-sem-Cabeça é mais do que um castigo religioso: é um símbolo de desejos reprimidos que se transformam em tormento.

Misticamente, ela expressa:

o preço da culpa,

a força destrutiva da vergonha,

a necessidade de libertação emocional.

Seu relincho flamejante ecoa como um alerta: o que não é enfrentado se torna monstruoso.

Boto-Cor-de-Rosa
Aqui está o Espírito do Encanto e da Travessia. No Amazonas, o Boto é mais que sedutor: é entidade das águas profundas, capaz de atravessar os mundos.

A metamorfose em homem elegante fala de uma força espiritual que transita entre o material e o invisível. Simboliza:

sensualidade ancestral,

fertilidade,

transição entre dimensões.

Aparece especialmente em tempos de lua cheia — quando o véu entre mundos é mais fino.

Pesadelos Antigos
Muito antes de ser figura para assustar crianças, a Cuca é uma velha feiticeira que domina os domínios do inconsciente.

Ela rege os medos, os segredos e os símbolos que habitam a mente adormecida.

Energeticamente, representa:

a sombra,

os medos de infância,

a sabedoria oculta que só desperta no escuro.

Enfrentar a Cuca em sonho é enfrentar a si mesmo.

Negrinho do Pastoreio
Figura profundamente espiritual, o Negrinho é tratado como entidade de luz em diversas tradições populares.

Sua história de sofrimento e redenção o transformou em símbolo de proteção e milagres.

No plano místico, ele representa:

fé inabalável,

justiça divina,

reconciliação espiritual.

Àqueles que o invocam, ele abre caminhos perdidos e traz de volta aquilo que parecia impossível recuperar.

O folclore brasileiro é um grande mosaico de forças espirituais que ecoam das matas, rios, ventos e sonhos.

Não são apenas histórias antigas: são frequências vivas, arquétipos que continuam atuando no imaginário coletivo, moldando comportamentos, crenças e medos.

Esses seres existem onde a fé e a natureza se tocam — naquele espaço sutil onde o Brasil profundo guarda seus mistérios.

………….

Anabelle Santa’cruz é Editora de Oráculos

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