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Saindo do labirinto

O lado sombrio da ternura é a ausência do ser amado

Publicado

Autor/Imagem:
Luzia Couto - Foto Francisco Filipino

Talvez o que vivemos tenha sido
uma dança entre espelhos e lâminas —
o toque que acaricia enquanto corta,
o beijo que promete silêncio e entrega ao mesmo tempo.

Havia em nós uma liturgia da ilusão,
um altar de lençóis onde
o prazer caminhava sobre pontes quebradas.
A cada encontro,
a luz saía pelas frestas
como se até o amor tivesse medo de nos ver por inteiro.

As preces não foram ouvidas,
perderam-se entre a neblina e o barulho das desculpas.
E mesmo o vento parecia suspirar por nós,
como quem reconhece o fim antes do adeus.

Nosso desejo — tão insistente —
tornou-se um hábito pálido, um ritual sem milagre.
Vestidos de tédio e promessas falidas,
esfregávamos pele contra pele
sem que a alma acompanhasse os gestos.

Depois, vieram os silêncios endurecidos,
os domingos vazios de nós,
os sonhos que viraram cacos brilhando nas calçadas.
Até o amor se escondeu em alguma esquina da memória,
com medo de reconhecer a própria sombra.

E eu sigo, descalça no labirinto,
pisando verdades partidas,
carregando o perfume amargo de um tempo
que ainda ousa chamar-se amor.

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