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Estilos e gostos

O mestre do realismo mágico

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Autor/Imagem:
Eduardo Martínez - Foto Irene Araújo

Nunca me furtei a dizer que o meu escritor contemporâneo favorito é o Daniel Marchi, que tenho a intimidade de chamar apenas de Dan. É um prazer indescritível quando me deparo com seus contos ou crônicas. Quer saber? Pois leio e, em seguida, releio, como se fosse almoço na casa da minha saudosa avó, Esther Stella Cesario, que me instigava a encher o prato outra vez.

Bem, se os textos do Daniel possuem essa capacidade de revelar meu lado glutão, há algo que nem ele nem eu possuímos. Sim, faço questão de me incluir nisso. E o que seria isso que nós não temos? O costume – ou seja lá o que for – de escrever histórias impossíveis. Não que, vez ou outra, elementos fantásticos não apareçam nos nossos escritos, mas isso não é uma constante.

Quem já se deparou com os contos do Daniel ou os meus, pode até pensar de onde tiramos tantas ideias. Seja como for, são roteiros críveis, por mais mirabolantes que possam parecer. Não posso afirmar por que isso acontece, já que nunca toquei nesse assunto com o Daniel, apesar de sermos amigos há tanto tempo, que afirmo que, por eu ser mais velho, ele jamais vivenciou um instante neste mundo sem saber quem eu sou. E por uma simples razão: sou o afilhado preferido da Marilda e do Celso, os pais do Dan.

No meu caso específico, ao contrário da minha esposa, a Dona Irene, nunca fui leitor assíduo de realismo mágico. Li alguns autores, é verdade, e até gostei, o que não quer dizer que tenho pretensão ou vontade de me tornar um escritor que nem o J. Emiliano Cruz (Jota), a Edna Domenica, o Gilberto Motta e a Luzia Couto. Todos talentosos e com estilos próprios, que me atrevo a afirmar que consigo distinguir seus textos sem nem mesmo ler o nome do autor. Isso se chama assinatura, chancela ou, recorrendo a um termo possível de encontrarmos em um conto do Dan, jamegão.

Os quatro escritores que citei costumam, vez ou outra, fazer uso (e muito bem, por sinal) dessa narrativa fantástica. Todavia, o grande mestre dessa maneira de fazer literatura é, sem qualquer resquício de dúvida, o Cadu Matos. Ele é tão bom nisso, que, quando me deparo com um dos seus contos, tento desvendar de onde ele tira aquelas situações.

Teria o meu colega das letras poderes que nós, escritores do cotidiano, por mais surpreendente que seja, desconhecemos? Não duvido e até tenho uma teoria sobre isso. Absurda, você pode dizer e, caso insista um pouquinho, terei que concordar. Mas não dá para imaginar que o José Mojica Marins, o notório Zé do Caixão, transferiu seus poderes pro Cadu quando desencarnou?

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Eduardo Martínez é autor do livro ’57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’ (Vencedor do Prêmio Literário Clarice Lispector – 2025 na categoria livro de contos).

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