O Milagre das Velas revelado na fé no Negrinho do Pastoreio

No coração dos Pampas, onde o vento sopra livre e as estrelas parecem mais próximas da terra, ainda se conta a lenda do Negrinho do Pastoreio. Não como simples narrativa de dor e martírio, mas como oração viva, feita de fé, esperança e silêncio iluminado.

A revelação me foi feita por Caminhante, apelido carinhoso de uma amiga gaúcha que nessa época do ano troca sapatos por resistentes e confortáveis botas, para que possa pisar firme, sem riscos, no solo coberto de geada.

Dizem que ele, menino marcado pela chibata e pela ingratidão dos homens, nosso personagem encontrou no colo da Virgem Maria a eternidade que lhe foi negada em vida. E é por isso que, em cada rancho, beira de estrada ou capela humilde, ardem velas em seu nome. São pequeninas chamas que desafiam a escuridão e transformam a noite em promessa.

O povo crê. E onde a vela é acesa, ali o Negrinho caminha, leve como brisa, trazendo o que foi perdido, guiando passos cansados, devolvendo a esperança. Quantas vezes o cavalo extraviado voltou ao galpão, o objeto querido reapareceu como por encanto, ou mesmo a paz reencontrou lugar no coração aflito? É isso que se conta! É nisso que se tem fé.

Mas o milagre não está apenas no retorno das coisas, e sim no gesto de acender a vela, no entregar-se sem reservas. É como se cada chama fosse um pedaço da alma ofertado ao Céu, um fio de luz que liga a terra rude ao mistério divino.

Quando finalmente a noite se cobre de silêncio, e a última estrela vacila sobre os campos, ainda há quem diga ter visto o Negrinho. Um menino pequeno, sorriso sereno, cavalgando um potro de fogo, conduzido pela mão invisível da Santa. Nesse instante, até o vento se ajoelha, e os Pampas se cobrem de reverência.

Porque o Negrinho do Pastoreio, reitera Caminhante, não é apenas lenda. É, garante-me ela, fé acesa na chama humilde de uma vela.

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José Seabra é diretor da sucursal regional Nordeste de Notibras