Voz do destino
O mistério de Delfos com a frase ‘conhece-te a ti mesmo’
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Entre rochedos e abismos, onde o eco do vento parece carregar vozes que não pertencem a este mundo, erguia-se o Oráculo de Delfos. Não era apenas um templo, mas um portal, uma fenda viva por onde a terra exalava vapores, mistérios e presságios.
Ali, a Pítia não falava por si mesma. Seus olhos revirados e sua língua trêmula eram apenas sinais de que forças invisíveis haviam se apoderado de sua carne. Muitos acreditavam ouvir Apolo. Outros, mais atentos, temiam que fossem entidades mais antigas que os próprios deuses olímpicos, espíritos enredados no sangue da terra e na memória dos homens.
O buscador que ousava se aproximar raramente saía ileso. Pois o oráculo não oferecia respostas, mas maldições travestidas de sabedoria. Cada palavra era uma chave e, ao mesmo tempo, uma armadilha. O futuro, quando revelado, nunca era bênção, mas fardo.
Nas pedras do templo ainda ressoa a inscrição: “Conhece-te a ti mesmo”. Mas os iniciados sussurravam uma continuação nunca revelada: “…e conhecerás o abismo que te habita”. Porque em Delfos, não era o deus quem falava — era o destino, com sua boca incandescente e sombria, que se abria diante do homem.
E assim, cada consulta ao oráculo era um rito de passagem. Alguns voltavam transformados, outros enlouqueciam, mas todos, sem exceção, deixavam em Delfos uma parte de si — como se o templo fosse também um cofre das almas que ousaram perscrutar o invisível.