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Entre a Razão e a Arte

O peso e a beleza de criar

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Autor/Imagem:
Thalita Delgado - Foto Francisco Filipino

Eu gostaria de saber para que usamos a fórmula de Bhaskara. Entender para que, afinal, servem as mitocôndrias. Fazer uma boa análise de números do imposto de renda! Ser extremamente boa em curativos e não passar mal vendo alguns animais. Quem sabe, talvez, desejar enormemente estar no plenário da câmara discursando sobre como precisamos lutar por nossos direitos. Se não assim, quem sabe trabalhando no setor agrícola, que sustenta a base econômica do nosso país? Acho que a soja seria um setor promissor.

Bom, sempre é tempo de saber a melhor estratégia para usar a Inteligência Artificial, ou planejar de forma correta o Instagram, Google Ads e LinkedIn.

Porém, não! Eu nasci com o caminho mais difícil, mas não doloroso, que é ver arte em tudo! O caminho que é o menos acessível a grande parcela da população, e até mesmo a mim, de local privilegiado, chega a ser mais acessível, mas não menos desprestigiado.

A nós, que vemos, sentimos e sofremos quando não podemos ao menos fazer um poema, uma música, um desenho, uma escrita… nos perguntamos por que não nascemos na matemática?

A nós, que quando paramos para comprar lápis de cor, canetinhas e paletas de violão, nos perguntamos, por que não a medicina?

A nós, que sempre, infinitamente, precisamos colocar para fora, para não sufocar, nos perguntamos, por que não QUALQUER outra coisa ao invés de querer a arte?

Por que insistir em um país onde as pessoas não têm acesso a livros, onde quase todos de nós temos dois ou até mais empregos, onde tudo, a cada momento que a gente olha, nos convida, de forma sedutora e bem atraente, a ser mais do mesmo… enquanto lutamos contra nós mesmos, para continuar seguindo no mundo que nos sufoca?

Existem portas e mais portas nos convidando a seguir o fluxo. E apenas aqueles, como nós, que morremos por não conseguirmos nos desligar da arte, somos capazes de entender que nada disso que nos dizem ser bobagem, no fundo é!

Não será a arte o resultado de nossas próprias frustrações?

Ontem, em plena quinta-feira, assisti ao filme da Barbie – o filme que ganhou os corações de todo mundo e fez quase toda mulher ter orgulho, novamente, de usar rosa-choque.

Ruth Handler, uma senhora que não tinha muita estatura, um corpo bem tradicional e olhos castanhos, criou “Barbara” sendo a boneca mais perfeita do mundo, em todos os sentidos. Estaria ela dando vida à sua frustração?

Assim como nós, que quando escrevemos, cantamos, compomos, pintamos, desenhamos e sujamos a mão de pura criatividade e imaginação, não estamos nos colocando em locais de vulnerabilidade e gritando pro mundo “toma aqui nossas frustações, aposto que elas também são suas”?

Mas é ai que dói. Dizem que artistas sentem mais… sofrem mais… pensam mais… Então, quem sabe, apenas quem sabe, se todos fossem artistas, pintores, gramáticos, ceramistas, desenhistas e loucos, os estranhos seriam os matemáticos, médicos, arquitetos, advogados, engenheiros…

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Thalita Delgado (@tha_delgado): Jornalista, publicitária e empresária, que também se expressa como crocheteira e escritora. Apaixonada por música, livros e pequenas sensibilidades do cotidiano, lançou em 2024 seu primeiro livro A vida se faz rindo e chorando pela Editora Autoria.

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