Esses bolsominions...
O punhal verde e amarelo é a digitalização do crime
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Confesso que, com tudo o que a gente já viu nos últimos anos, eu achei que minha capacidade de me espantar com um golpista em farda tinha chegado ao fim. Mas não. Na semana passado, o general Mário Fernandes conseguiu me surpreender.
Durante seu interrogatório no STF, ele teve a ousadia de afirmar que aquele plano mirabolante de assassinato de autoridades brasileiras, incluindo o presidente da República, não passava de um pensamento digitalizado.
Segundo o general, ele não conspirou, ele não tramou, ele apenas… digitalizou um pensamento. O plano tinha nome, “Punhal Verde Amarelo”, estava escrito, impresso, com alvos definidos, mas era só uma reflexãozinha solitária de um servidor patriota. Ele só esqueceu de apagar depois. Acontece com todo mundo, né?
É como se eu, aqui, resolvesse escrever uma lista de crimes que teoricamente eu poderia cometer, detalhasse como, onde, com que armas, os alvos, os horários, imprimisse no meu trabalho e guardasse na bolsa. Mas calma, gente! Era só um pensamento digitalizado! Nunca compartilhei, só levei para o Palácio da Alvorada 40 minutos depois de imprimir por pura coincidência. Coincidência e miopia, claro. Segundo ele, imprimiu só pra não forçar a vista.
A pergunta que fica é: como alguém com esse nível de pensamento estratégico chegou ao posto de general? E mais: como foi parar na Secretaria-Geral da Presidência da República?
Não sei se rio da cara de pau ou se choro pelo estado a que chegamos. Porque, se isso fosse roteiro de uma série, a gente diria que o roteirista está forçando a barra. Mas é o Brasil real, o mesmo país em que o sujeito admite ter planejado um atentado, mas acha que o problema foi só o formato do pensamento.
Pois então tá, general. Da próxima vez, use o bom e velho pensamento analógico. Assim ninguém descobre. E quem sabe o Brasil não escapa por pouco de mais um golpe que, segundo os envolvidos, nunca existiu, estava só em fase de rascunho.