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Xandão cirúrgico

O que não se disse na nota de autodefesa

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Autor/Imagem:
José Seabra - Foto de Arquivo

Há notas que explicam. E há notas que se defendem. A do ministro Alexandre de Moraes pertence à segunda categoria: um texto enxuto, juridicamente blindado, escrito não para convencer curiosos, mas para sobreviver a leitores atentos. Uma nota que diz muito, justamente pelo que escolhe não dizer.

O ministro lista bancos, presidentes, federações, vice-presidentes jurídicos, reuniões técnicas, consequências graves, cartões de crédito, contas correntes e o sistema financeiro ameaçado por uma lei estrangeira de nome duro. Atende por Magnitsky. Tudo ali é grande, solene, institucional. Tudo ali é distante. Internacional. Sistêmico.

Tudo ali está a quilômetros de distância de supostas conversas com o Banco Central sobre os bancos Master e BRB

Não por acaso, o texto é uma aula de enquadramento: quando o problema ameaça se tornar regional, ele é elevado a global; quando a suspeita pede nome próprio, responde-se com substantivos abstratos. Não se nega o fato, mas o campo em que ele poderia existir. E com isso o tema simplesmente evapora.

Não aparece como hipótese, não surge como ruído, não merece uma vírgula. É como se a operação que inquieta Brasília fosse um boato de corredor, indigno de cruzar os portões de mármore do Supremo. No STF, entende-se, só entram crises que falam inglês e assustam o mercado.

Do ponto de vista jurídico a nota de Alexandre de Moraes é impecável. Porém, do ponto de vista político, é revelador. Porque, quando um ministro do Supremo precisa esclarecer com quem se reuniu, por que se reuniu e sobre o que falou, não está apenas prestando contas. Ele delimita território, como quem diz “Daqui para frente, esta história não é minha.”

E talvez não seja mesmo. Porque o silêncio, mesmo não absolvendo ninguém, redistribui responsabilidades. Empurra o holofote para o Banco Central e entrega o desconforto às instâncias técnicas que adoram sigilo e detestam manchetes.

O ministro sai de cena como entrou. Permanece togado, impessoal, protegido pela liturgia do cargo. Já os outros ficam no palco, sob a luz crua da política, onde explicações não podem ser tão abstratas quanto uma lei americana.

No fim, a nota cumpre seu papel. Não encerra o debate, mas apenas muda o endereço.

E Brasília, velha conhecedora desse jogo, sabe que quando o Supremo cala sobre um assunto específico, não é porque ele não existe, mas sim porque alguém decidiu que ele deve ser resolvido em outro andar do poder. Mais baixo, mais barulhento e bem menos blindado.

Os Poderes Legislativo e Judiciário entram em recesso. O Executivo vai levando em banho-maria, com um grupo folgando até voltar para render os plantonistas. Até lá, a CPI defendida por Alessandro Vieira pode virar pó. E o silêncio sepulcral será sinônimo de enterro do soar de tambores. Sem direito a ressurreição.

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José Seabra é CEO fundador de Notibras

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