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O Que Nos Fere Também Nos Cura
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Nada pode ferir tanto quanto nossos próprios sentimentos. E nada pode curar tanto quanto eles também. Essa é uma das verdades mais duras da vida, e uma das mais libertadoras quando finalmente a entendemos.
Fomos crescendo acreditando que o perigo estava sempre do lado de fora: nas pessoas, nas situações, nos desencontros que a vida empurra.
Mas, com o tempo, percebemos que é dentro de nós que os maiores desastres acontecem, e que é ali também que os milagres começam.
Somos nós que nos decepcionamos quando esperamos demais. Somos nós que nos machucamos quando insistimos em permanecer onde já fomos expulsos pelo silêncio. Somos nós que carregamos culpas antigas, frustrações herdadas, medos que ninguém vê. E somos nós que, na hora de dormir, lidamos com a parte mais indomável da vida: aquilo que sentimos.
Mas é justamente isso que nos transforma. Porque os sentimentos que nos rasgam são os mesmos que, mais tarde, nos costuram de volta. A dor que nos derruba é a mesma que nos ensina a levantar de outro jeito. A decepção que sangra é a mesma que afasta o que nunca deveria ter ficado. E o medo que paralisa é o mesmo que nos prepara para o dia em que, enfim, ousamos continuar.
Chega um momento em que entendemos que a cura não vem de fora. Ela vem do instante em que decidimos encarar o que sentimos sem fugir, sem mascarar, sem inventar desculpas bonitas para justificar o que já nos destruiu demais.
A cura vem quando paramos de negar. Quando aceitamos que estamos cansados. Quando admitimos que estamos machucados. Quando reconhecemos que precisamos mudar por nós, não pelos outros.
E é aí que algo silencioso acontece. A força que parecia perdida reaparece. O valor que parecia esquecido retorna. A esperança que parecia apagada reacende. Porque tudo o que precisamos para nos levantar já estava dentro da gente, mesmo quando a gente não via.
No fim das contas, aprendemos assim: somos feridos por aquilo que sentimos, mas também somos salvos por aquilo que decidimos sentir depois.
E é nessa escolha pequena, diária, íntima que a vida recomeça.