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Lula 4

O retorno anunciado e o desafio do voto em 2026

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José Seabra - Foto Ricardo Stuckert

Em visita oficial à Indonésia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou nesta quinta, 23, que pretende disputar um quarto mandato presidencial em 2026. O anúncio, feito de forma direta, marca um novo capítulo na trajetória do líder petista e reacende o debate sobre a sucessão política no Brasil.

“Tenho a mesma energia de quando tinha 30 anos”, afirmou Lula a jornalistas, cercado por ministros e assessores, em um discurso que soou tanto como bravata quanto como demonstração de vitalidade política. Aos 80 anos, ele parece decidido a testar novamente sua força nas urnas — e, ao que tudo indica, não vê adversários à altura no horizonte imediato.

Por que Lula 4
A decisão de concorrer a um quarto mandato não é apenas pessoal, mas estratégica. O presidente entende que ainda é o nome mais forte para manter a esquerda no poder e garantir a continuidade do projeto político do Partido dos Trabalhadores. Ao anunciar sua candidatura com antecedência, Lula reforça sua autoridade interna, afasta dúvidas sobre sucessores e dá o tom da corrida eleitoral.

O contexto também o favorece. A oposição está fragmentada, sem uma liderança clara capaz de unificar o eleitorado antipetista. A ausência de Jair Bolsonaro das urnas — já que o ex-presidente permanece inelegível — abre espaço para uma disputa em aberto, onde nomes tentam ocupar o vácuo deixado pela direita radical.

Além disso, o anúncio precoce tem valor simbólico, já que coloca o debate público sob o domínio de Lula. Ele dita a pauta, mobiliza aliados e obriga adversários a reagirem em vez de agirem. O gesto é, acima de tudo, um movimento político preventivo — típico de quem domina o tabuleiro e antecipa os próximos lances.

O desafio da continuidade
A busca por um quarto mandato, entretanto, carrega riscos. Mesmo com capital político consolidado, Lula enfrentará o desgaste natural do poder, além das pressões econômicas e sociais que podem corroer sua popularidade. A inflação persistente, o custo de vida alto e a lentidão do crescimento econômico podem virar munição para os opositores.

Outro ponto delicado é a fadiga política. Após mais de duas décadas de protagonismo, parte do eleitorado — inclusive entre os moderados — começa a desejar renovação. Ainda assim, Lula aposta que o carisma pessoal, o histórico de conquistas sociais e o discurso da “defesa da democracia” continuarão sendo escudos eficazes contra o desgaste.

Embora o favoritismo inicial seja de Lula, o campo opositor não está vazio. Diversas figuras já se movimentam — algumas discretamente, outras com ambição declarada — para ocupar o espaço deixado por Bolsonaro. Entre os possíveis nomes estão:

1. Tarcísio de Freitas (Republicanos)
O governador de São Paulo é, hoje, o adversário mais plausível de Lula. Ex-ministro da Infraestrutura de Bolsonaro, Tarcísio tenta se descolar do bolsonarismo mais radical e construir uma imagem de gestor técnico e moderado. Seu desafio será equilibrar-se entre a fidelidade à base bolsonarista e a necessidade de atrair o eleitorado de centro. Se conseguir, pode tornar-se o principal nome da direita em 2026.

2. Romeu Zema (Novo)
Governador de Minas Gerais, Zema tem perfil discreto, discurso liberal e imagem de gestor pragmático. Tenta se colocar como alternativa “racional” à polarização entre Lula e o bolsonarismo. O problema é a falta de carisma e de base partidária sólida. Seu partido, o Novo, perdeu relevância nacional, e alianças com legendas tradicionais ainda são uma incógnita.

3. Ratinho Junior (PSD)
Governador do Paraná, é jovem, popular em seu estado e tem trânsito entre diferentes espectros da direita e do centro. O PSD, de Gilberto Kassab, sonha em lançá-lo como nome de consenso em uma frente ampla antipetista, caso Tarcísio e Zema não avancem. Ratinho Jr. teria o desafio de se projetar nacionalmente e mostrar experiência política fora do eixo regional.

4. Simone Tebet (MDB)
Ministra do Planejamento e ex-candidata à Presidência, Tebet mantém o discurso moderado e uma imagem de equilíbrio. Poderia ser a ponte entre centro e centro-direita em uma aliança mais ampla. No entanto, o MDB segue dividido: parte da sigla ainda apoia o governo, outra quer se afastar. Tebet teria de romper com o Planalto e arriscar sua posição atual para viabilizar uma candidatura competitiva.

5. Eduardo Leite (PSDB)
O governador do Rio Grande do Sul ainda é visto como uma esperança remanescente do PSDB, que tenta se reerguer após anos de declínio. Jovem e articulado, Leite aposta em um discurso moderno, pró-mercado e progressista nos costumes. Mas o partido perdeu musculatura, e Leite precisaria de alianças com PSD e União Brasil para se viabilizar.

6. Michelle Bolsonaro (PL)
Com o ex-presidente Jair Bolsonaro impedido de concorrer, Michelle Bolsonaro é ventilada como possível herdeira do bolsonarismo. Ela tem apelo entre o eleitorado evangélico e o público feminino conservador, mas carece de experiência política e de trajetória institucional. Sua candidatura dependeria do apoio direto do marido e da máquina do PL.

Aliança ou fragmentação
Para enfrentar Lula com chances reais, a oposição precisará formar uma aliança ampla, reunindo direita, centro e setores descontentes com o governo. Isoladamente, nenhum dos nomes citados parece capaz de derrotá-lo.

A questão é se haverá tempo e maturidade política para isso. O Brasil tem tradição de pulverizar candidaturas — e Lula sabe explorar bem a divisão adversária.

Enquanto a oposição busca um rosto, Lula já tem o discurso, a máquina partidária e o apoio de movimentos sociais consolidados. E, como em outras campanhas, deve recorrer à comparação simbólica: “Lula é o povo contra as elites; os outros são o sistema contra o povo”.

O jogo começou
O anúncio de Lula não é apenas um gesto de ambição pessoal. Trata-se, sim, de uma declaração de força. Ele coloca as cartas na mesa antes de todos e desafia os adversários a se organizarem. O “Lula 4” começa como favorito, mas não imbatível.

O sucesso dessa ova empreitada dependerá de três fatores:

A saúde política e física do presidente até 2026;

O desempenho da economia e a percepção pública sobre seu governo;

A capacidade da oposição de apresentar um nome competitivo e uma narrativa alternativa.

Mas talvez o maior desafio de 2026 não esteja nas urnas, mas na própria alma política do país. O Brasil parece condenado a viver em ciclos de retorno — os mesmos nomes, os mesmos discursos, as mesmas promessas recicladas. Lula, mais uma vez, se apresenta como salvador de uma história que ele próprio ajudou a escrever.

Resta saber se o eleitor quer reviver o passado ou reinventar o futuro. Porque, no fundo, a eleição que se aproxima é menos sobre Lula e mais sobre nós. Ou, para sintetizar, sobre o quanto ainda acreditamos que mudar de rumo é possível sem precisar andar em círculos.

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José Seabra, diretor da Sucursal Regional Nordeste de Notibras, está de passagem por Brasília

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