Sociedade patriarcal
O serviço de mulher nunca acaba
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O serviço de mulher nunca acaba porque sempre esperam que a gente se desdobre em mil, sorrindo, como se fosse obrigação natural carregar o mundo nas costas. E quando finalmente sentamos, exaustas, ainda tem quem pergunte por que estamos tão cansadas. É tão fácil cobrar, mas tão difícil reconhecer… O trabalho que fazemos, o visível e o invisível, move a casa, a família e a vida, mas mesmo assim tratam como se fosse um mero detalhe, favor ou obrigação.
O serviço de mulher nunca acaba porque a sociedade foi construída em cima da ideia de que a gente deve aguentar mais, suportar mais e aceitar mais. E quando não aceitamos, quando exigimos respeito e divisão justa, dizem que é drama, exagero e frescura. Não é. É apenas o mínimo.
O serviço de mulher nunca acaba porque quando termina o dia, ainda temos todas as preocupações na cabeça, a lista interminável do que precisa ser feito amanhã e o peso do que ninguém viu que fizemos hoje. E muitos homens ainda se veem no direito de cobrar mais e mais, como se nosso esforço fosse responsabilidade atribuída e nossa exaustão fosse chatice.
O serviço de mulher nunca acaba porque nos ensinaram a dar conta de tudo, mesmo quando tudo já nos consome. E quando ousamos dizer que estamos sobrecarregadas, aparece aquele discurso pronto de que é só organizar melhor o tempo, como se o problema fosse falta de agenda e não falta de reconhecimento.
O serviço de mulher nunca acaba, mas a paciência para aguentar, sim. A cada dia cresce a consciência de que não é encargo, nem tão pouco destino biológico, não é imposição de gênero. É abuso disfarçado de normalidade.
O serviço de mulher nunca acaba, até o dia em que entramos em surto por exaustão e aí dizem que somos histéricas, tóxicas e problemáticas. Como se o problema fosse o nosso limite e não o excesso que eles nos impuseram todos os dias.
E assim, mandamos o foda-se e saímos como erradas… porque ousamos levantar a voz, deixamos de engolir tudo caladas e finalmente percebemos que não devemos nada a ninguém. A verdade é que não é rebeldia, não é exagero e não é drama. É só cansaço acumulado de anos, décadas e gerações.
E quando a gente diz basta, não é surto: é libertação.
Quando exigimos respeito, não é afronta: é direito.
Quando a gente se recusa a carregar o mundo, não é egoísmo: é sobrevivência.
Chamam de frescura aquilo que nunca tiveram coragem de assumir: que nos sobrecarregam e ainda esperam gratidão. Pois bem. Não vamos mais suavizar o peso que não é nosso.
Porque o serviço de mulher nunca acaba, mas a nossa tolerância, sim.
E quando ela termina, não sobra submissão: sobra verdade.
E a verdade é que nunca fomos o problema.
O problema sempre foi essa ideia torta de que a “mulher boa” é aquela que engole tudo calada, mantendo um sorriso no rosto.