Voracidade dos juros
O silêncio da Faria Lima que faz rico ficar bem mais rico
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Para iniciar é preciso situar o que é Faria Lima, uma rua na cidade de São Paulo sede de bancos e empresas de gestão de ativos que vivem da ciranda financeira. Visto aí, como daqui do Velho Continente, observa-se que a região tornou-se o epíteto para designar os especuladores rentistas, ultra-ricos sem sensibilidade social, que vivem à custa da drenagem dos recursos públicos via juros da dívida pública, e zero de preocupação com a soberania do Brasil e a dignidade de seu povo.
Prosseguindo, o Brasil é um dos países mais desiguais do mundo, e esta é uma verdade que nos acompanha há décadas, desde o modelo de economia implantado a ferro e fogo pela ditadura civil-militar de 1964-1985, que conteve políticas de valorização salarial em detrimento da elevação dos lucros privados. Isto se intensificou com os governos neoliberais de Collor e FHC, que chegou ao ponto de livrar de tributação os ganhos em dividendos e criou a esdrúxula figura de juros sobre capital próprio, que contribuíram sobremaneira para a piora da distribuição de renda no país.
Estamos em um momento crucial para compreender a discussão desta abjeta e escabrosa situação: a definição do orçamento público para o ano de 2026. Por um lado o governo Lula, claramente voltado ao desenvolvimentismo com justiça social, no que for possível dentro do arcabouço institucional que delega poderes inimagináveis a um congresso nacional descolado do povo, antidemocrático, conservador e claramente de direita; e de outro o interesse dos rentistas que capturaram o país com a desregulação econômica promovida por FHC, presidente que governou de joelhos para o Consenso de Washington.
Para entender esta disputa, a observação sobre dois tópicos do orçamento materializa e evidencia o descaso da elite financeira brasileira para com o país e seu povo. Utilizando-se dos porta-vozes “isentões” da mídia dominante, esta elite propaga seus desejos e interesses a partir de análises e comentários de supostos especialistas do mercado financeiro e das redes de comunicação como Globo, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo, Band, SBT, Record e outros.
Se por um lado é unanimidade nas análises feitas por estes meios o “custo” da política de valorização do salário mínimo, uma das poucas políticas públicas responsáveis por enfrentar esta situação dramática de desigualdade, no financiamento da previdência pública que tem a maior parte de seus benefícios vinculados a esta remuneração; por outro não se publica uma linha nestas análises sobre os gastos estratosféricos do orçamento com a dívida pública, cuja taxa básica de juros que a remunera é mantida por pressão do mercado financeiro (a tal de Faria Lima), o que faz do Brasil um dos países de maior juro real do mundo.
A título de comparação, o gasto com a previdência no Brasil para 2026 será da ordem de R$1,1 trilhão de reais destinados a aproximadamente 40 milhões de pessoas ou 18,7% da população, enquanto que para o refinanciamento da dívida pública serão destinados R$1,8 trilhão de reais, sendo R$643,00 bilhões somente para o pagamento de juros, dinheiro que vai para as mãos de pouco mais de 100 mil pessoas, ou aproximadamente 0,045% da população. Sobre isto nenhuma linha, nenhum comentário alarmante alertando do risco fiscal. É importante destacar também que o Brasil, além de ser dos mais desiguais, de possuir uma das mais altas taxas de juros reais ainda é, segundo o FMI, o maior pagador de juros do mundo.
Sobre isto você leu alguma matéria ou comentário sensacionalista dos “especialistas” a soldo da Faria Lima, sinônimo dos ultra-ricos rentistas cujo rosto se volta para a Europa e os EUA e a bunda para o Brasil?, conforme já disseram lá atrás grandes intelectuais brasileiros.
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Antonio Eustáquio é correspondente de Notibras na Europa