Ainda há esperança
O silêncio de Deus e o olhar do homem na porta da igreja
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Hoje vi um senhor ajoelhado na porta de uma igreja, mãos erguidas, olhos cerrados, rosto em paz. Ele não sabia que eu o observava, e talvez isso tenha sido o mais belo. Não era espetáculo: era fé. E eu, que não tenho mais aquela fé inteira, chorei.
A Antropologia da Religião, com nomes como Clifford Geertz, nos mostra que o sagrado não mora apenas nos templos, mas nas práticas cotidianas de significado. Aquele homem me ensinou mais que muitos sermões. Sua entrega era linguagem. Era território. Era o corpo dizendo: ainda há esperança.
Na Sociologia, Durkheim falaria de “efervescência coletiva”. Mas naquele gesto solitário havia comunidade. Havia mundo. Havia um Brasil inteiro rezando com ele, ainda que calado. Senti que, mesmo sem ter a fé que ele tem, eu também fui tocada pela graça.