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Lembranças do Nordeste

Onde o fogão a lenha é um símbolo eterno de amor

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Autor/Imagem:
Acssa Maria - Texto e Foto

Entre os ventos quentes e o cheiro da terra molhada de chuva no coração do Nordeste, mora uma memória que atravessa gerações: o fogão de lenha. Mais que um simples instrumento de cozinha, ele é símbolo de tradição, união familiar e afeto — um verdadeiro altar da convivência nordestina.

Nas pequenas casas de taipa ou alvenaria, principalmente na zona rural, o fogão de lenha ainda é presença constante. Não só pela praticidade ou economia, mas pelo valor sentimental. É ao redor dele que se reúnem avós, pais, filhos e netos. Entre panelas fumegantes e cheiro de comida feita com tempo e carinho, contam-se histórias, resgatam-se raízes e se constrói felicidade simples.

O gosto do feijão cozido lentamente, da macaxeira frita na manteiga da terra ou da canjica feita nas festas juninas não se compara quando vem do fogão de lenha. O aroma da lenha queimando se mistura com lembranças da infância: do café passado em coador de pano, do pão assando em forno de barro, das manhãs preguiçosas com tapioca feita na hora.

Dona Rita, 72 anos, moradora do interior do Piauí, lembra com carinho:

“Fogão de lenha era o coração da casa. A gente acordava cedo, minha mãe já estava ali mexendo o mingau, e o cheiro tomava conta. Hoje, meus netos adoram vir aqui só pra comer no fogão. Dizem que tem gosto de abraço.”

Mesmo com a modernidade e a chegada de eletrodomésticos nas áreas urbanas e rurais, muitas famílias nordestinas mantêm o fogão de lenha não apenas por escolha, mas por reconhecimento de sua importância cultural. Ele é resistência frente à pressa do mundo moderno — um lembrete de que o tempo da comida e do afeto precisa ser respeitado.

Além disso, em tempos de crise econômica, ele representa também um alívio no orçamento das famílias. A lenha, muitas vezes encontrada nas próprias propriedades ou adquirida por baixo custo, substitui o gás de cozinha, que tem se tornado inacessível para muitos.

Mais do que cozinhar, o fogão de lenha aquece os lares. Literal e emocionalmente. É ao seu redor que nascem os conselhos, as risadas, as cantigas de roda. Ele testemunha celebrações, lutos, nascimentos. Carrega a chama acesa de uma cultura que valoriza o encontro, a partilha e o cuidado.

Numa época em que se busca cada vez mais o essencial, o Nordeste mostra que, às vezes, a felicidade mora nas coisas mais simples: num prato de cuscuz quentinho, numa conversa sem pressa, no calor de um fogão de lenha.

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