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Tiro no pé

Operação Chacina, de Cláudio Castro, matou só bagrinhos do crime

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Arimathéia Martins - Foto Paulo Pinto/ABr

Que me perdoem os céticos, os que acreditam em duendes, bruxas e mitos e os que levam a vida na valsa, isto é, sem pressa e sem compromisso com os outros. Que me perdoem os que defendem o enfrentamento desatinado e o pouco caso com a vida, mas não há necessidade alguma de meus 86 bilhões de neurônios estarem ligados por mais de mil conexões sináticas para perceber a conexão entre a “operação” nos complexos da Penha e do Alemão e a comprovada química entre Lula da Silva e Donald Trump.

Posso estar velho, ultrapassado, sem nexo e trocando as bolas, mas nada me surpreende em um governo sabidamente um exímio e extremado governador bolsonarista. Aliás, mais bolsonarista do que determinados membros do clã. Para começo de assunto, dos 121 mortos, apenas quatro foram vistos por Cláudio Castro como vítimas. Na avaliação do governante acima de qualquer suspeita, os demais 117 não eram humanos. Bandidos ou não, todos foram tratados como animais sarnentos, ou seja, podiam levar tiros na cara. Foi um esculacho.

Repito que não há como se manifestar contra qualquer tipo de ação de combate a traficantes e a facções criminosas. O que se questiona é que a chamada operação tinha por objetivo a matança em troca de votos dos que fazem das chacinas de jovens aliciados um grande pretexto para festejos intermináveis. E assim foi feito. Para atenuar as falhas da rede política que dá proteção ao crime e atender a elite de políticos, cujas lideranças determinam o destino do povo, o governador montou o plano mais que perfeito para matar.

E que perfeição. Morreram 117 bagrinhos do crime, mas os tubarões do Comando Vermelho, todos velhos conhecidos da rapaziada das polícias Civil e Militar, não sofreram um único arranhão. Na verdade, assistiam de camarote à leviandade ideológica de “autoridades” que, sem qualquer constrangimento, de vez em quando montam uma dessas operações como reação à bandalheira das organizações criminosas.

Em lugar de aplaudir os policiais e se vangloriar de 117 cadáveres, o governador Cláudio Castro deveria fazer um mea culpa e, em rede nacional de rádio e televisão, se desculpar por sua fraqueza e incompetência como chefe da segunda maior unidade da Federação. Ele poderia usar o pronunciamento para lembrar a seus colegas governadores da extrema-direita que o crime não é causa, mas consequência de décadas de abandono do Estado e de desmandos e roubalheiras de políticos mentirosos e com narrativas tão criminosos como as do que comemoraram a matança.

Instalar CPI contra o crime organizado é mais uma balela política. É uma daquelas farsas criadas pelos senhores e senhoras deputados e senadores para enganar os eleitores inocentes e os que se fazem de inocentes para endossar o discurso dos que fazem tudo pela manutenção do caos. A CPI e novas operações de Cláudio Castro são iniciativas pífias no controle da guerrilha urbana. Os líderes das organizações criminosas estão livres, leves, soltos, impunes e circulando por lugares frequentados por figurões da sociedade.

Alguns desses criminosos são enaltecidos e homenageados publicamente como financiadores de campanhas políticas. Para os homens públicos que aprovaram a chacina de terça-feira, é fácil se confraternizar hipocritamente com o governador fluminense. Como enganadores contumazes, desfrutam diariamente de benefícios e regalias negados aos mais pobres. Para eles, nada mais justo do que empurrar para a mira de fuzis dezenas de jovens desassistidos pelo Estado. Será que chegará o dia que esses senhores e senhoras perceberão que desenvolver políticas públicas em benefício do cidadão é mais lucrativo e menos negativo do que matar? Tomara! Quanto a Cláudio Castro, acho que, politicamente, a desastrada operação foi um tiro em seus dois pés.

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