Os cães e a minha escrita

Cães são tão importantes na minha vida, que faço questão de dedicar meus livros a eles também. Tem gente que me pergunta por que faço isso, pois eles não sabem ler. Não sabem? Como assim? Não existe criatura que sabe interpretar melhor o que somos do que os nossos cães.

O último parágrafo do meu segundo livro, Meu melhor amigo e eu (editora Achiamé, 2006), talvez expresse o que quero dizer:

Passe mais tempo ao lado do seu cão, acaricie seu pelo, diga palavras doces no seu ouvido, role no chão com ele. Olhe dentro dos olhos do seu amigo. Um dos momentos mais lindos no convívio com o cão é justamente essa troca de olhares. Não fuja do olhar do seu amigo. Então, diga que o ama. Ele pode até não saber o significado das suas palavras, mas com certeza perceberá as coisas que vêm do seu coração.

Vejo muitos escritores falando que foram influenciados por Machado de Assis, Lima Barreto, Clarice Lispector, Caio Fernando Abreu, Guimarães Rosa, Cecília Meireles…Todos excelentes e, certamente, pilares de sustentação daquilo que penso ser literatura de qualidade. É lógico que todos são ingredientes do tempero da minha escrita. No entanto, entretanto, todavia, se sou escritor de verdade, a maior parcela de culpa vem do Pancho, do Barão, do Krayk, da Annie, da Dedeia, do Babu, da Cuquinha, da Manicó, da Buibui, do Bronquinho, do Charlie, da Bluiblui, da Cocó, da Cacau, da Molly, do Mumu, do Chengulo, da Bebel, da Clarinha…

Sei que há escritores influenciados por gatos, e são a maior parte. O Daniel Marchi mesmo é um deles. E que seja assim. Cada um com suas influências e, como diz a Malulinha, a minha caçulinha de dois anos: “Pepito, tá tudo bem!”

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Eduardo Martínez é autor do livro ’57 Contos e Crônicas por um Autor Muito Velho’ (Vencedor do Prêmio Literário Clarice Lispector – 2025 na categoria livro de contos).

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