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“Patriotas” esquecidos

Os que se diziam bons eram ruins e acabaram péssimos

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto Antônio Cruz/ABr

Triste do povo que acha que pode, de forma individualizada, assoviar e chupar cana. Pobre do povo que faz questão de divulgar soberbamente que governo bom, honesto e acima de qualquer suspeita foi o dele. Escrevem, criam fakes e mandam imprimir milhões de folhetos afirmando que nunca houve e jamais haverá governantes tão bons ou melhores do que aqueles que elegeram, mesmo que o eleito nada tenha produzido de mais ou menos para a nação. Craques em comentar aquilo que desconhecem, são formados em Achologismo, segmento do conhecimento que agrega profissionais formados pela Universidade Facebook, com pós-graduação em WhatsApp.

Por isso, não é de se estranhar o fato de credores do obscurantismo insistirem na tese mal-acabada de que mandatário bom é o que mata e rouba em nome do futuro do país, mas faz. Por décadas, a cidade e o Estado de São Paulo exportaram para o Brasil o parlamentar, prefeito e governador que popularizou essa máxima. E não era um comunista. Pelo contrário. Defensor e partícipe da ditadura que ajudou a instalar no Brasil, o tal cidadão, como qualquer vaso ruim, quebrou, perdeu a empáfia, mas não morreu. É um daqueles que, a exemplo das hienas, riem do mal que causam aos seus e aos outros.

Acostumados a viver em sintonia mentirosa e oportunista com Deus e com a verdade, os eleitores desse tipo preferem brincar com coisa séria. De remota e desagradável memória, paulistas e cariocas já elegeram macacos e rinocerontes para cargos de prestígio nacional. Nada tão anormal, para povos que já choraram rios de lágrimas após elegerem antas, ratos e cobras peçonhentas para o Palácio do Planalto e para as duas prefeituras mais importantes do Brasil. Escolados na arte da enganação e do golpismo, alguns se especializaram em doar Fuscas para jogadores de futebol, em captar dízimos de pobres coitados e em chamar de suas joias da coroa brasileira.

Eram bons, mas se mostraram ruins, embora nunca tenham deixado de ser péssimos. Não sei me entendem, mas refiro-me particularmente àquelas figuras que, em nome de Deus, encontram mecanismos na liturgia verborrágica para justificar a morte de milhares de palestinos. Farinhas do mesmo saco, amam adorar os comentários dos papas Merval Pereira, Demétrio Magnoli e Jorge Pontual, embora adorem odiar a Globo Lixo, emissora que abriga em seus quadros cidadãos que não assumem suas condições de menestréis do golpismo. Se queixam da falta de preparo de um, mas não admitem o despreparo do outro. Imaginem o deles!

Deliberada e inocentemente esquecendo que são péssimos ao cubo, avaliam como ruim tudo que não parte deles. São as contradições permitidas pela democracia, sistema que, se pudessem, afundariam de cabeça nos rios Tietê, Guandu e Guaíba, os mesmos que a tirania de direita, inescrupulosamente e sem dó nem piedade, transformou em desova de desafetos e sorvedouros de esgoto. Tiveram chance de mudar e não fizeram, pois perderiam um dos principais motes de contraposição à esquerda, cujos simpatizantes costumeiramente denominam de comunistas. Mais uma vez esquecem que, pior do que a fidelidade a princípios ideológicos inexistentes no Brasil, é lamber as botas de quem, na primeira oportunidade, rejeita e vira as costas para apoiadores.

“Patriotas” como Regina Duarte, Sérgio Moro, Mauro Cid, Gustavo Bebiano e Abraham Weintraub, entre outros, experimentaram a infidelidade e o gosto amargo do fígado apodrecido de um tal rei que sempre defendeu a ferro e fogo os interesses políticos pessoais e dos filhos. O resto que se exploda. Como escreveu o poeta Fernando Pessoa, tudo vale a pena se a alma não é pequena. Guardado meu direito secreto e sagrado de voto, admito todos os erros políticos e falhas pessoais do meu escolhido. Gostaria que os falsos profetas do Apocalipse fizessem o mesmo. Reconheço a dificuldade deles em assumir tal posicionamento, pois, além de se acharem infalíveis, não são capazes de admitir que o ufanismo que pregam pelo Brasil é tão falso como a pregação que fazem em defesa daquele ex-presidente. Eles abraçarão qualquer um que surgir com o discurso da tirania. Do alto de minha sensatez, insisto que ladrão por ladrão, fico com a democracia.

*Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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