Oxum, a Senhora das águas doces e do amor

Oxum é uma das mais queridas e reverenciadas orixás do panteão afro-brasileiro. Presente nas religiões de matriz africana como o candomblé e a umbanda, sua imagem transborda delicadeza, força feminina e poder ancestral. Representando a fertilidade, o amor, a beleza e as águas doces, Oxum é a dona dos rios, das cachoeiras, das riquezas materiais e espirituais, e do mistério da maternidade.

Seu nome deriva do rio Osun, na Nigéria, um dos principais territórios iorubás, onde até hoje se celebram festivais em sua homenagem. No Brasil, suas águas estão presentes nas margens dos rios e no imaginário coletivo de quem busca alívio para dores do corpo e da alma. Nas roças de candomblé, Oxum é associada ao ouro e ao brilho, à vaidade digna que empodera e lembra a força encantadora da mulher.

O povo de Oxum acredita em sua capacidade de abrir caminhos afetivos, curar relações, trazer prosperidade e proteger as crianças. Seu arquétipo é o da mulher doce, sensível, mas ao mesmo tempo fortemente determinada — muitas vezes associada à figura da sedução e da diplomacia. Nas oferendas, comumente encontram-se mel, espelhos, flores amarelas e joias, acessórios que reforçam seu domínio sobre o reflexo e a beleza.

Na umbanda, Oxum geralmente aparece como um guia de amor e perdão, simbolizando a água que lava, amacia e alimenta. Seu sincretismo com Nossa Senhora da Conceição, fruto da resistência cultural durante o período da escravidão, permanece forte até hoje, unindo duas expressões de fé que, embora distintas, se abrigaram no coração do povo.

Em tempos de sofrimento, a crença em Oxum se torna também uma forma de resistência e cura — um abraço espiritual àqueles que buscam afeto e esperança. Ela nos lembra que as águas mansas escondem profundidade e que o amor, longe de ser frágil, é uma das forças mais poderosas que existem.

Que Oxum derrame suas águas de doçura sobre todos os que dela necessitam.

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Helena Freitas, historiadora, é a mais nova colaboradora de Notibras