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Valores invertidos

País da fantasia política, Brasil dá mais valor à falsidade do que à honestidade

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Autor/Imagem:
Mathuzalém Júnior - Foto Editoria de Imagens/IA

Faz algum tempo venho batendo na tecla da fulanização do patriotismo no Brasil. Falo tanto que deixei de acreditar naqueles que, mesmo sem merecer, querem ser louvados o tempo todo. Salvaguardadas as exceções, vivemos em um corpo social onde os valores estão invertidos. A mediocridade e os estereótipos, somados ao culto à aparência, geraram uma comunidade formada por seres carentes, solitários, que vivem entre si, mas não se enxergam. Desde que a política e os políticos exacerbaram sua importância sobre as pessoas, o certo passou a ser errado, a verdade é mentira e a falsidade hoje vale muito mais do que a honestidade. Viramos um país de fantasias. Somos um povo sem representação.

A realidade é apenas uma utopia, coisa de “comunista”. Por isso, a chamada grã-finagem organizada e liderada pelos “patriotas” persegue, agride e segrega os bons, honestos e verdadeiros, independentemente de sua linha ideológica. Eles representam um perigo para a aristocracia. Uma pena, mas convido a todos a se somar à sociedade pós-moderna, na qual os valores morais deixaram de existir. Nessa inversão de valores, só falta o povo confundir hipocrisia com sabedoria. Os fanáticos fazem isso com a maestria dos estultos, os quais de espertos só têm a vontade.

É o caso daqueles de defendem a grosseira e desatinada intervenção dos Estados Unidos no Brasil, mas não conseguem se imaginar no olho do furacão. Acham que serão salvos pelo Pai, pelo Filho e pelo Espírito Santo encarnado em Donald Trump. Fingem que não sabem, mas serão os primeiros a arder no fogo do inferno. Prova maior da falência do sistema político pensado pelo clã Bolsonaro e da fragilidade das lideranças que ameaçadoramente seguem a família foi a recente tentativa de emparedamento dos presidentes da Câmara e do Senado.

Pobres diabos. Além de violenta, intolerante e animalesca, a tomada dos plenários das duas casas do Congresso mostrou o quão baixo é o nível dos parlamentares denominados bolsonaristas. Piores do que bêbados fugindo de um tiroteio, a súcia metida a bloco parlamentar é um retrocesso óbvio para um país que se imagina caminhando para o Primeiro Mundo. O resultado dessa anomalia política é a visibilidade da palhaçada, do radicalismo e do ódio entre pessoas que habitam o mesmo espaço, a mesma região, o mesmo país e, às vezes, a mesma família.

Como todos querem ter razão e a supremacia da opinião, caminhamos a passos largos para a definitiva prostituição da política nacional. Decorrência direta do emburrecimento de boa parte do eleitorado, os rufiões do Congresso Nacional se transformaram em agentes de um antro de negociação econômica e partidária a céu aberto. Quem paga menos, sofre mais. Quem promete muito, não sofre nada. São os casos de Luiz Inácio, o que paga menos, e de Jair Bolsonaro, o que deve, mas não quer pagar, embora seja o principal responsável pela cegueira política que impera no Brasil.

A se manter o cenário de digressão política do povo, o melhor a fazer é fechar as portas, jogar as chaves fora ou, numa hipótese absurdamente temerária, devolvê-las à aristocracia, representada por aquele ex-presidente que, a pretexto de alijar a esquerda de qualquer disputa, dorme e acorda sonhando com o poder. É o mesmo cidadão que, invertendo a ordem de sua própria história de conflitos violentos, se apresenta nos plenários e nas manifestações públicas como o protótipo da democracia. Também é dele a ordem para transformar divergências políticas em ódio, consequentemente em carnificina. O quadro é dantesco. Ou nos esforçamos para mudar ou ficaremos sem futuro.

Aliados à turma dos oportunistas pagos para contrariar, deputados e senadores bolsonaristas claramente não somam e nem multiplicam. Eles só dividem e subtraem. Alguns se unem contra a pátria. Enquanto isso, a família que os comanda organiza manifestações para demonizar o governo e o país. A sociedade que se dane. O resultado do pouco caso com a população não poderia ser outro. Segundo recentes pesquisas, o Brasil e suas instituições não servem mais para nada. E nós? Com o instinto animalesco observado nos recintos políticos, nos estádios de futebol e até nas igrejas que destilam ódio contra os diferentes, servimos para alguma coisa? Se servimos, façamos valer nosso voto. Ele é nossa principal arma para evitar a regressão, a calamidade, a inversão de valores e o silêncio forçado de nossas vozes. A pressão da sociedade é a causa do medo de muita gente.

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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978

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