Dia dos Namorados
Palavra certa para definir o que é o amor nem sempre está nos livros de poesia
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Data em que celebramos o amor, o Dia dos Namorados para mim é todos os dias. Faço minhas as palavras do poeta Carlos Drummond de Andrade, acrescentando que nenhum de nós precisa de dias marcados para amar noite e dia. Já li e ouvi numerosas frases sobre este 12 de junho. Algumas são destinadas a vender sabonetes, joias, lingeries, bombons Sonho de Valsa e até viagens para Ponta Grossa. Entretanto, poucas colaram como chiclete em minha vida de mulher, de amante e de amada como duas de escritores e poetas franceses. Assinada por Antoine de Saint-Exupéry, a primeira diz que “Amar não é olhar um para o outro. É olhar juntos na mesma direção”.
Ainda mais profunda é a de Théophile Gautier, para quem “Amar é admirar com o coração. Admirar é amar com o cérebro”. Portanto, desnecessário buscar livros de poesias para encontrar a palavra certa para ser dita ao amor de nossas vidas. Aliás, por conta dos mitos contidos nesses livretos de padaria é que hoje o amor está nivelado por baixo. Por exemplo, o amor não ilumina o caminho de ninguém. Como disse um autor desconhecido, o nome disso é poste. Ele também não supera barreira alguma. A isso damos o nome de gol de falta. Zico, Rivelino e Roberto Dinamite eram mestres nessa arte.
Também é bom registrar que, ao contrário do que dizem, quem traça nossos destinos é o GPS e não o amor. Para superar obstáculos, é necessário recorrer a um veículo com tração nas quatro rodas. O coração não nos dá forças para isso. Por favor, não acredite quando alguém disser que é o amor que mostra o que realmente existe dentro de nós. Dependendo da posição, os especialistas chamam essa prática de endoscopia. Para outros, é a famigerada colonoscopia, aquele trem que deixa a gente grogue para nos pegar mais facilmente por trás.
Celebremos o amor, mas nunca esqueçamos que quem atrai opostos é o imã, o que nos deixa sem fôlego é a asma e o que tira o foco de homens e mulheres é a miopia. Pelo amor de Deus, não confundam a grande obra do mestre Picasso com a grande “coisa” do mestre de obras. Cada coisa no seu lugar. É como ouvirmos que o amor faz as pessoas se tornarem maravilhosas. Se enganam os que pensam dessa forma, na medida em que o sentimento transformador é conhecido por dinheiro.
E aquilo que deixa qualquer um maluco, a ponto de provar várias posições na cama em poucos minutos? É amor? Claro que não! É a insônia, prima irmã da loucura feminina após descobrir que o parceiro esqueceu a toalha molhada na cama. Misturar o efeito do whisky ou da vodka com as baboseiras ditas à pessoa amada sem querer é outra blasfêmia. Pior é confundir a promoção da Tim, da Oi da Vivo ou da Claro com passar horas falando de amor ao telefone. É bom que se diga que o amor não é aquilo que, quando chega, a gente reza para que nunca tenha fim. Eu chamo isso de férias.
Meus caros e minhas caras, convenhamos respeitosamente que o amor não é aquilo que entra em sua vida e muda tudo de lugar. O nome desse fenômeno é empregada doméstica nova. Por fim, o amor não é aquilo que gruda no ser humano corajoso e arranca lágrimas quando vai embora. Os profissionais da dor chamam isso de cera quente. Metáforas e exageros de linguagem à parte, aproveitemos o Dia dos Namorados. O amor está no ar.
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Sonja Tavares é Editora de Política de Notibras
