Amizade, século XXI
Paquera em bar repleta de dúvidas e incertezas
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Lucas chegou à porta do barzinho onde havia marcado com Lola. “Sei não, esses sites de namoro são a maior cilada”, disse a si mesmo. “Mas quem tá na chuva é pra se queimar”.
Entrou e viu uma morena atraente sentada sozinha, diante de uma cerveja. “Até que ela é bonitinha…Eu traçava!”
“Ah, deve ser o Diego. Até que ele é atraente. Minha amiga Gabi, que é escrachadésima, diria ‘Eu passava na cara’. Eu, que sou uma boa moça –
riu mentalmente – confesso: Tô a fim de transar com ele!”
“Mentirosa!” – berrou o grilinho falante que nunca a abandonava. “Tu vai é pegar ele e fazer gato e sapato do pobre”.
“Vou sim”, admitiu Lola, sem um pingo de culpa.
– Você é a Lola, né? Muito prazer. Meu nome verdadeiro é Lucas.
– Muito prazer, Lucas. Eu me chamo Virgínia.
Ele sentou-se, pediu outro copo, encheu-o de cerveja, brindaram e começaram a jogar conversa fora. “Como é que eu faço pra mudar o rumo dessa prosa? Dar uma erotizada no
papo? “Quero ver como ele vai mudar o rumo dessa prosa, dar uma erotizada no papo…”
A guinada veio minutos depois.
– Olha, moça bonita, entramos naquele site pra descolar um parceiro de beijos, pegação, transas, essas coisas. Mas estamos perigando cair na
zona da amizade. Então, direto ao ponto: Quero beijar você, depois vemos o que acontece.
Virgínia gostou do “moça bonita” e murmurou:
– Gostaria que você me beijasse..
Ele sentou-se a seu lado, a cerveja ficou esquecida e os beijos se multiplicaram, cada vez mais intensos.
– Vamos pro meu apartamento? – ele propôs, a voz rouca de desejo.
– De jeito nenhum que vou transar com você! – em seguida, atenuou a rejeição.
– Não no primeiro encontro…
Lucas ficou pensativo. De repente, seu rosto iluminou-se.
– Tá bom, tchau – e saiu do barzinho, deixando-a a ver navios, diante de uma garrafa vazia e da futura conta.
Dois segundos depois, quando a indignação de Virgínia pela cafajestice começava a tomar conta dela, Lucas voltou. Deu um sorriso atrevido e
mandou ver:
– Oi, mulher linda, há quanto tempo! Espero que este nosso segundo encontro seja tão bom quanto o primeiro, em que a gente se beijou que
nem louco. Então, cê tá a fim de continuar a pegação lá em casa?
Virgínia começou a rir e amoleceu todinha.
-Cê é louco! Vamos, pede a conta.
Chegaram ao apartamento de Lucas, a dois quarteirões do barzinho, e deram início aos trabalhos. Foi gostoso, mas nenhuma maravilha, e
decidiram migrar pra zona da amizade. Só que amizade deles por vezes fica colorida, em um arco-íris hétero. Basta que alguém ligue, com voz pidona:
– Oi, cê tá sozinho(a)? Tô precisando de um ombro amigo…
“Ombro?!” – indignou-se o grilinho falante de Virgínia.
– “Ouvi bem, cê pediu uma parte do corpo bem diferente…”
– Ora, cala a boca, seu chato! – retrucou a moça bonita/mulher/linda/Lola/Virgínia, sem uma pitadinha de vergonha.
Por sua vez, o grilinho falante de Diego/ Lucas nem assiste a esses diálogos. Finge dormir, pois desistiu faz tempo de conter as barbaridades de seu protegido. E, no fundo, acha graça.