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Bajuladores surdos

Para azar dos Bolsonaro, o Brasil de Lula não é mais quintal dos EUA

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Autor/Imagem:
Wenceslau Araújo - Foto de Arquivo

De aprendiz de apresentador fuleiro de televisão à estagiário de dono do mundo, o republicano Donald Trump pulou o vestibular de feitiçaria globalizada, mas continua o mesmo do tempo em que, de forma soberba e com postura autoritária, defenestrava do programa “The Apprentice” (O Aprendiz) os empresários que o incomodavam ou que faziam frente a seu ego superfaturado. Desde então, tudo o que ele faz é, além de mostrar competitividade e poder de decisão, tentar dar ar de normalidade ao que é anormal. É o próprio showman da merda no ventilador e da diplomacia da chantagem.

Exatamente como fez Jair Bolsonaro na presidência e no pós-golpe fracassado, como faz sua defesa e como fazem seus principais aliados no Congresso Nacional e nos demais segmentos da sociedade. Com a vaidade acima do bem, do mal e de qualquer um que ouse atravessar seu caminho, o mito brasileiro e o atual presidente norte-americano vivem da imagem de durões, de “solucionadores de problemas” e de líderes com superpoderes, conforme definição de Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto.

Autor da tese de que, sem utopia, a vida perde o sentido, o frade e escritor brasileiro foi quem melhor definiu Trump e sua aproximação com a família Bolsonaro. Em recente artigo, o pregador e militante das boas causas afirmou com todas as letras que o líder republicano não é tudo aquilo que parece ser. De forma ainda mais cristalina, disse que só os ingênuos acreditam que Eduardo Bolsonaro teve poder suficiente para convencer Trump a abrir uma guerra econômica contra o Brasil. Obviamente que a ingenuidade definida por Frei Betto diz respeito à trupe bolsonarista.

Alguém duvida? Quem mais teria essa medíocre convicção? Quem apostaria na capacidade de um ex-fritador de hambúrguer na terra de Tio Sam para adentrar os jardins ou os cômodos da Casa Branca e exigir a anulação de todos os processos envolvendo o pai, reconhecidamente o cabeça da tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023? Somente eles, os que um dia também acreditaram que os extraterrestres invadiriam Brasília e expulsariam Luiz Inácio do Palácio do Planalto e, de quebra, levariam Alexandre de Moraes para outra galáxia.

Segundo Frei Betto, gostem ou não, Donald Trump segue dando seu show para uma plateia de bajuladores surdos e também capazes de vender as mães em nome do poder. O palco é a inquestionavelmente séria Casa Branca, hoje bem mais próxima dos tons avermelhados pela vergonha. O “amiguinho do coração” Bolsonaro não passa de pretexto de Donald Trump para atingir o Brasil. O verdadeiro motivo é outro. O que incomoda Trump é a pujança brasileira, é a força de nossa agropecuária, é a importância que conquistamos junto às grandes potências. Conforme Frei Betto, o maior incômodo é “o crescente protagonismo do Brasil no cenário internacional”.

Do alto de sua empáfia, Trump não aceita o êxito do governo de Lula da Silva junto aos Brics. Ainda mais inaceitável é o Sul Global e o bom entendimento do país com a China, Rússia e a Índia. O Brasil não é mais o quintal dos Estados Unidos. O Brasil é uma república forte, soberana, democrática e, principalmente, independente. Para o ranzinza e soberbo presidente dos EUA, isso é imperdoável. O que ele e os puxa-saco do bolsonarismo desejam é que o Brasil seja uma eterna república de bananas. Como suposto dono do mundo, o mais condenável é Luiz Inácio não ter lambido suas botas e Alexandre de Moraes ter decidido enquadrar as big techs americanas. De tudo o que foi dito, resta para os brasileiros com um mínimo de inteligência a certeza de que, para nós, os Estados Unidos não são mais os mesmos. Nem os Bolsonaro.

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Wenceslau Araújo é Editor-Chefe de Notibras

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