Além do horizonte
Para viajar, destino é um mero detalhe; o importante é o caminho a seguir
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Viajar de carro é uma das minhas maiores paixões. E não falo de qualquer viagem, dessas com pressa de chegar, não. Falo de pegar a estrada com o coração leve, mochila no porta-malas e nenhuma certeza além da de que vai ser bonito. Eu e meu marido, o escritor Eduardo Martínez, já atravessamos o país tantas vezes, que o GPS até nos chama pelo nome.
Viajar de carro tem um sabor diferente, um gosto de liberdade temperado com poeira e vento na cara. A estrada é generosa com quem sabe apreciá-la. A gente para quando dá vontade — e dá vontade o tempo todo. Uma árvore solitária no meio do campo, um pôr do sol exagerado, uma placa prometendo o melhor pastel de queijo da região… tudo é motivo. A gente para, contempla, conversa com um senhor que nunca vimos, come alguma coisa que talvez nos arrependamos depois — ou talvez seja a melhor coisa da viagem.
Já rodamos pelas curvas de Minas, com seus queijos e igrejinhas barrocas. E foi lá, em Paraopeba, que descobrimos a famosa Linguiça da Bete — patrimônio gastronômico da nossa memória afetiva. Sério, se você nunca provou, está vivendo pela metade. A gente já fez desvios de rota só pra passar lá de novo. E voltaríamos quantas vezes fossem necessárias.
Nos encantamos com a Bahia, onde até o asfalto parece dançar. No Rio Grande do Sul, tomamos chimarrão como se fôssemos locais (embora eu ainda ache que é mato quente). Em São Paulo, nos perdemos e nos encontramos mil vezes. E, em cada parada, deixamos um pouco da gente e levamos um pouco do lugar.
Pra gente, qualquer desculpa é boa: uma folga, um feriado, um tédio de domingo ou até uma vontade súbita de comer pamonha na beira da estrada. Quando vemos, já estamos com os olhos na linha do horizonte, discutindo se pegamos a BR tal ou outra mais vazia. Porque, no fundo, o destino é só um detalhe. O que a gente gosta mesmo é do caminho.