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POESIA E ARQUÉTIPOS

Paráfrase do poema Inscrição Rupestre de Léa Palmira e Silva

Publicado

Autor/Imagem:
Edna Domenica - Texto e Foto

Uma paráfrase dissertativa de um poema deve procurar identificar respostas às questões:

– Quem é existencialmente o eu poético que se manifesta no poema?

– Como ler a revelação do momento poético vivido pelo eu poético?

– Há referências diretas ou analogias a: sensações, sentimentos, emoções, sentidos perceptivos?

No entanto, na iniciação aos estudos sobre teoria literária aplicada a textos de poetas participantes de oficinas, os comentários tendem a ser breves e remetem a compartilhamento entre escritor (a) e leitor (a).

Para tentar enriquecer a arte de compartilhar, a produção a ser tomada como objeto de paráfrase, é o texto “Inscrição Rupestre” de autoria de Léa Palmira e Silva:

Inscrição Rupestre
Léa Palmira e Silva

Sou pedra e nela estou petrificada
Sou pedra e posso escutar seus soluços
Sou pedra e posso acariciá-los…
Quando estou no mar,
Suas ondas me cobrem me protegem.
O sol ardente me queima
E eu me aqueço e me envolvo.
A lua me contempla…
E eu a enamoro, confiante no amanhecer.
Sou pedra, mas ponho-me a chorar
Quando um barco vejo a velejar
E com seus imigrantes a pescar, comovo-me
Por ver suas bravuras num vai e vem do mar
Sou pedra da floresta imensa
Neste verdejante plainar.
Sou pedra e nela gravaste
O teu lindo gesto… De amor.

Na busca dos símbolos contidos no poema supra; tomamos por fundamentação os arquétipos descritos por Lucien Boia: 1o. A consciência de uma realidade transcendente; 2o. A alma, a morte, o além; 3o. Alteridade: conexão entre o “eu” e os “outros”; 4o. A unidade: o homem aspira por um universo homogêneo e inteligível; 5o. A atualização das origens: mitos fundadores; 6o. Desvelamento do futuro: imaginário adivinhatório – ocultismo, astrologia profecias; 7o. Evasão: mudar de condição pela via da ascensão espiritual ou pela regressão ao estado natural (retorno às raízes); 8o. Luta e complementaridade dos opostos. Polarização.

O poema Inscrição Rupestre de Léa Palmira e Silva transpõe em palavras uma manifestação existencial importante. Retoma o arquétipo do mito fundador por meio da metáfora da pedra. Remonta ao tema da ancestralidade pela escrita na pedra (“escrita rupestre”) que é a mais antiga forma de registro da permanência humana na caverna (abrigo, habitação, lar, aconchego). A imobilidade expressa no primeiro verso “Sou pedra e estou petrificada” que supõe a fossilização é alterada, implicitamente, pelo mito do eterno retorno: o eu poético que é pedra retorna ao encontro com o tu num lugar onde fica gravado “o teu lindo gesto de … Amor.”

……………………….

Referência:

. BOIA, Lucien. Por uma história do imaginário. A Verdade dos Mitos. 1998. Paris: Les Belles Lettres. Capítulo I: Estruturas e Métodos (P. 11-56).

. Edna Domenica – paulistana, desenvolve pesquisa sobre Psicodrama e suas aplicações em oficinas de escrita criativa, parcialmente publicadas em Aquecendo a produção na sala de aula (Nativa, 2001) e Relógio de Memórias (Postmix, 2017). Dedica-se a escritas conjuntas, conforme menciona em entrevista por Cecília Baumann Brasil, continente também na literatura, se destaca com escritores coletivos – Notibras. Alguns textos conjuntos foram publicados no Café Literário Notibras, a exemplo de: Poema Coletivo ” De que você gosta?” – Por Azaléa, Edna, Eduardo, Gilberto, Rosilene, Taís, Tatalo.
É autora de A volta do Contador de Histórias (Nova Letra, 2011); Cora, coração (Nova Letra, 2011); No Ano do dragão (Postmix, 2012), As Marias de San Gennaro (Insular, 2019), O Setênio (Tão Livros, 2024).
Sobre ser escritora declara: “escrever é uma empreitada existencial desafiadora […], uma tarefa árdua, um afeto prazeroso, um ato de cidadania”.

. Léa Palmira e Silva – AZALEIA – é “manezinha” (nasceu na capital de SC). Em 2013, participou do concurso de Narrativas e Poesias do Sindprevs/SC e, em 2018, do Concurso Literário da Academia Criciumense de letras -ACL. Fez o curso de Contadores de Histórias no NETI- UFSC., em 2001, e posteriormente, as oficinas: Teatro da Terceira idade e Escrita Criativa. Foi integrante da ABCH de 2015 a 2023. E da ACONTHIF desde 2001. Participa do Projeto antirracista Retintas 1 e 2 com poemas.

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