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Alô alô, TCU

Parceiros mútuos usam e abusam da Mútua. Pode isso?

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Autor/Imagem:
Carolina Paiva

Que em casa de ferreiro (ou de ferreira, pois hoje gênero anda junto e misturado) espeto é de pau, todo mundo sabe. Isso já foi lembrado inclusive em matérias veiculadas por Notibras. Mas quando tem engenheiro no meio, a coisa se complica. Erguem-se manobras (e não prédios) nas mal traçadas linhas da Lei de Gérson, para que uns e outros levem vantagens.

A lama que se acumula lá pelos lados da Mútua (a bilionária caixa assistencial dos engenheiros, com mais de 1 bilhão de reais no cofre) é como areia movediça e ameaça afundar muita gente. Fede mais que a Tomada de Contas 015.880/2018-4, do Tribunal de Contas da União.

A Mútua é uma caixa intrigante. Tem muito ouro dentro, mas se for colocada uma chave e rodada a fechadura, não haverá brilho, mas negritude. Até Pandora, com seus mistérios e os males escondidos do mundo trancafiados, ficaria envergonhada.

Virar a fechadura é força de expressão corriqueira. Bom mesmo é dar um clique e abrir o site da Mútua. Lá é fácil ver que a caixa beneficente de engenheiros e agregados “disponibiliza, através de convênios nacionais e regionais, descontos em diversos produtos e serviços por meio de parcerias com empresas e entidades para todas as modalidades de associados”.

Não se lê, porém – e aí está o fio da meada -, que os principais benefícios são para seus próprios diretores, como não poderia deixar de ser, para os conselheiros do Confea, que deveriam ser responsáveis pela sua fiscalização.

O exemplo mais bem-sucedido da ação entre amigos são os mais de 40 apartamentos de propriedade da Mútua em um dos mais luxuosos hotéis de Brasília, localizado no coração da capital da República. É lá que se hospedam os figurões da área, sem quaisquer ônus, embora recebam polpudas diárias em suas quase frequentes viagens a Brasília.

Modestos, esses conselheiros não gostam de gastar. Sequer tiram do bolso o dinheiro que recebem como diárias, justamente para pagarem por sua hospedagem. Como o bolso está sempre fechado, costumam dividir os aposentos de propriedade da Mútua entre si. E como cabe a esses mesmos conselheiros fiscalizar e aprovar as contas da instituição, fazer vista grossa é mais fácil do que cego sair andando sem bengala ou cão-guia.

Essa farra não vem de hoje. No meio em que circulam engenheiros, quando não em suas obras, é conhecida a história da sede da entidade que foi comprada duas vezes, envolvendo um vendedor de cachorro quente. Agora, a megalomania da atual gestão resolveu sair do imóvel próprio situado na Asa Norte para se instalar em luxuoso prédio. Há quem assegure que o valor mensal do aluguel é de 250 mil reais. E tudo com a conivência do Confea, que parece dizer amém para as barbaridades que a atual gestão propõe.

Mas, como nem tudo é joio, há engenheiros sérios que estão separando o trigo desse lamaçal. E acenam com uma visita ao Tribunal de Contas da União, levando um dossiê que, se for realmente aberto, mostrará que a Caixa Preta da Mútua é mais negra do que aqueles buracos perdidos nos confins do Universo. Tá explicado porque a Mútua não publica os resultados da sua gestão.

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