Resumo da semana
Parece que a deputada Érika Hilton está certa ao chamar o PL de “Papuda Lotada”
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Escrevo este resumo da semana com a sensação estranha de quem passou mais raiva do que gostaria, mas também colheu algumas vitórias que merecem ser registradas. A Polícia Federal trabalhou intensamente, enquanto a Câmara dos Deputados e o Senado Federal conseguiram, mais uma vez, nos fazer sentir vergonha do Congresso que elegemos. Ainda assim, apesar de tudo, saio da semana achando que tivemos mais ganhos do que perdas.
Uma das pautas mais revoltantes foi a aprovação do chamado PL da dosimetria, que reduz as penas dos condenados pela tentativa de golpe de Estado. Torço para que Lula vete esse absurdo e deixe o desgaste político integralmente no colo do Congresso. Circularam boatos de que o Supremo Tribunal Federal teria negociado nos bastidores com alguns parlamentares. Não me parece inverossímil.
Como se não bastasse, o Congresso aprovou indecentes 61 bilhões de reais em emendas parlamentares. Quase 11 bilhões a mais do que no ano passado. E ainda decidiu que 65% desse montante deve ser executado já no primeiro semestre de um ano eleitoral. Além de um desperdício monumental de dinheiro público, com forte cheiro de desvios e esquemas de corrupção, isso é um ataque direto ao sistema democrático. Se até Amoêdo está indignado, imagina o resto de nós.
Entre as boas notícias, tivemos Sérgio Moro finalmente encrencado. Depois de uma operação de busca e apreensão da PF na 13ª Vara de Curitiba, cresce a expectativa de que ele responda pelos ilícitos praticados quando ainda era juiz. As operações da Polícia Federal, aliás, seguem sendo um capítulo à parte da vida nacional: sempre rendem polêmica, indignação e, às vezes, até risadas nervosas. Teve o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) inventando desculpa surreal para justificar 430 mil reais guardados em casa, teve o Deputado Federal Carlos Jordy (PL-RJ) sendo chamado pelo próprio irmão de traficante e vagabundo, teve o deputado federal Antônio Doido (MDB-PA) jogando celular pela janela. Teve também o número dois do Ministério da Previdência sendo preso.
Sobre isso, vi análises dizendo que o governo iria virar as costas para os investigados. Minha leitura é outra: acredito que o governo não vai proteger ninguém, nem mesmo aliados. E, se for assim, melhor.
Também tivemos desembargador preso, cujo advogado resolveu acusar o presidente da Assembleia Legislativa do estado do Rio de Janeiro de um suposto “ilícito conjugal”. Confesso: ri. Porque chega a ser tragicômico o nível do debate público a que chegamos.
No campo das cassações, a semana foi intensa. Os agora ex-deputados do PL, Eduardo Bolsonaro (SP) e Alexandre Ramagem (RJ), tiveram seus mandatos cassados pela Mesa Diretora da Câmara. Ramagem ainda teve a pachorra de ir às redes sociais se dizer perseguido, como se não fosse um criminoso foragido. Já Carla Zambelli (PL-SP) perdeu o mandato por decisão do STF. Aliás, o Partido Liberal parece estar envolvido em muitos escândalos. Não é à toa que a deputada Érika Hilton chama o PL de “Papuda Lotada”
Glauber Braga, por sua vez, fica: o deputado do PSOL-RJ foi injustamente suspenso, mas ao menos escapou da cassação.
E, para fechar a semana, veio a notícia de que a Enel será finalmente chutada. Espero sinceramente que outras empresas que prestam serviços igualmente ruins sigam o mesmo caminho. Fica o aviso: abre o olho, Equatorial Energia.
Enfim, depois de tudo isso, só resta dizer: força na peruca. Porque, do jeito que anda o Brasil, sobreviver politicamente já é um ato de resistência cotidiana.