Drummond reencarnado
Pares da direita não evoluem e os sentimentos nunca são correspondidos
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Mais para caça do que para caçadores, a direita e a extrema-direita do Brasil vivem atarantadas. Quase em surto psicótico, as lideranças das duas correntes correm desesperadamente contra o tempo e atrás do próprio rabo. Estariam elas preocupadas com o futuro da democracia no país? Será a inconstância econômica que as assusta? É claro que não! Quase donos do Brasil, os conservadores mais extremados estão à beira de um ataque de nervos à procura de alguém que pelo menos tente fazê-los voltar aos tempos de domínio absoluto.
Eis o x da questão. Quem? Quem? Quem? Por enquanto, não há ninguém que queira verdadeiramente ser o tal no espectro à direita. A verdade é que, enlouquecidos com a prisão de um líder que nunca liderou algo ou alguém, governadores, parlamentares e simpatizantes do conservadorismo não sabem para que lado devem ou podem atirar. Sem qualquer alusão pejorativa, mas, baratinados e pior do que cegos no meio de um tiroteio, eles lembram o poema Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade.
Na metáfora do poeta mineiro, o amor, incluindo o político, surge como uma dança na qual os pares estão trocados, isto é, não evoluem. Ainda mais complicada é a certeza de que os sentimentos nunca são correspondidos. É como se Drummond tivesse reencarnado para despertar os radicais nacionais sobre a perspectiva de chegarem a lugar nenhum. Se alguém tem dúvida, pensem comigo na obviedade do texto e na calamidade em que se transformou a direita, supostamente ainda comandada por Jair Messias Bolsonaro. Como diz o ditado, rei preso, rei morto.
Portanto, salve-se quem puder no redemoinho levantado após a partida do capitão. A mistura de egos invadiu de tal forma a direita, principalmente a extrema-direita, que, hoje, embora seus integrantes afirmem ter até dez nomes em condições de disputar e retomar a Presidência da República, parece muito mais um ninho de mafagafos cheio de mafagafinhos loucos em busca de asas próprias. Difícil para seres alados que sequer dispõem de plano de voo.
Na direita pós-Bolsonaro, Flávio ama Tarcísio que ama Caiado que ama Zema que ama Ratinho que ama Michelle, a amiga de Damares que não ama ninguém. Eduardo foi para os Estados Unidos, Jair para a cadeia, Carluxo tenta Santa Catarina, Malafaia está no convento, Zambelli morreu na praia, Ramagem fugiu para a Disney, Temer voltou para a Turquia, Motta talvez não volte e Alcolumbre fechou com Messias que, por razões óbvias, não tinha entrado na história.
Faltou falar de Renan, o que foi sem nunca ter sido, mas que ama Moro que ama toda a quadrilha, exatamente como no ciclo de amores descrito por Chico Buarque na canção Flor da Idade. O desespero da direita na caça de um nome de consenso cheira a pólvora, cuja explosão pode gerar um abraço de afogados, expressão que define os que, por medo de perder novamente, se agarram a qualquer coisa. Como o bom de caminhar é haver volta, qualquer viagem imaginada pelos simpatizantes do falido bolsonarismo tem de começar por onde está terminando o presidente da paciência, o tal que começou na página 2, pulou a página 22, alcançou a 2022 e agora sonha em concluir sua história na página 2026.
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Mathuzalém Júnior é jornalista profissional desde 1978