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Mudança de hábito

Patriota de pole dance, defendo edredom da Havan e Globo Lixo para presos estrelados

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Autor/Imagem:
Arimathéia Martins - Foto Editoria de Artes/IA

No Brasil há ladrões de todos os tipos. Tem os aparecidos, os enrustidos, os que vivem pertinho do céu, os que juram que são deuses, os que se apresentam como donos do mundo, os que já fritaram hambúrgueres, os que, em vão, pregam a palavra de Deus, os que usam paletó, gravata e revólver, os que surfam na inocência alheia, os que amam ser chamados de ladrões, os que choram e se borram quando avistam o camburão, os que são fracos, mas se acham fortes, e os que têm dez dedos, mas adoram divulgar que os ladrões só têm nove dedos.

Embora frequentemente descrevam a honestidade como a base da verdade, os de paletó e gravata são os que menos parecem honestos. São aqueles cuja teoria nada tem a ver com prática. Tudo neles tem preço, inclusive o caráter, a honestidade e o respeito. Sem generalizar, muito menos nominar, são pessoas que primam pela confiança cega de determinados gestores. A elas são confiadas missões das mais confidenciais, entre elas a de negociar com as construtoras, encher a mala de dinheiro e fazer pagamentos que não devem aparecer na contabilidade pública.

Sou daqueles que ignora os bordões dos falsos bonzinhos. Por exemplo, é desnecessário pregar que Deus está conosco ou que é Deus acima de tudo e acima de todos. Isso a gente já sabe que é pura demagogia. Pior são aqueles clichês super batidos envolvendo Deus, a pátria, a família, a liberdade e a defesa dia e noite da Constituição. Sem exceção, esses se aproveitam das madrugadas para desdizer na privada o que frequentemente dizem ao público e, no primeiro recado das urnas, a primeira coisa que fazem é rasgar o texto constitucional.

Sei que, como brasileiro, preciso acreditar na regeneração de quem trama contra a pátria, mesmo reconhecendo que poucos ou nenhum deles merece crédito. Aliás, qual político brasileiro merece crédito? Reconstruir o que estava destruído me parece uma obrigação. Também é redundância em abundância gritar nas ruas o velho e batido Tortura nunca mais. Do meu catre, prefiro o fora quem rouba, mas faz e, de forma ainda mais eloquente, o abaixo quem relaxa e goza à custa do trabalhador. Enfim, prisão longa para os que ousam usurpar poderes que não lhes pertencem mais. Ops! É aí que minha emoção democrática dá lugar à razão patriótica. Na verdade, me valho do velho e bom senso de humor, que é o sentimento que nos faz rir daquilo que nos deixaria loucos de raiva se acontecesse conosco.

É claro que o que não tem remédio, remediado está. Refiro-me à recente decisão do STF, cuja 1ª. Turma determinou a iminente prisão de eminentes figuras da estrelada, estrogonófica e diabética República Mitológica. Brincadeiras à parte, pensei, escorreguei na maionese, trepei no pole dance e optei por considerar lógica a tese bíblica de que ladrão que chama o “ladrão” de ladrão merece semanas e até meses de perdão. Por isso, após dias degustando garrafas de Moet Xandão, mudei de opinião e de hábito após ser informado que Donald Trump não conseguiu indultar os reclusos estrelados. Foi essa a motivação para me converter à Seita Regeneradora do Último Dia, liderada pela dupla Silas Bolsonaro e Eduardo Malafaia.

No terceiro dia, decidi lançar a campanha Adote um preso antes que ele se enforque na prisão. Como eu mesmo tenho dificuldade de assinar a minuta, resolvi aderir ao Movimento da Ficção Parlamentar (MFP). Com meu aval, o grupo defende penitenciárias com banho turco, cama redonda, lençol mil fios, edredom da Havan, travesseiro do Dr. Colchão, TV de plasma ligada somente à Globo Lixo e quentinhas produzidas e requentadas por Ana Maria Braga. Afinal, presos estrelados merecem respeito, carinho e consideração. Embora artistas de palcos pouco republicanos, cada um deles precisa de conforto para se desnudar com tranquilidade, de modo a penetrar em paz na alma do parceiro. Quem sabe assim eles topam assinar em conjunto o manifesto batizado oficialmente de Eu juro nunca mais atentar contra a democracia do meu país.

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Armando Cardoso é presidente do Conselho Editorial de Notibras

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