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População dividida

Paz na Colômbia é colocada à prova nas eleições presidenciais

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Autor/Imagem:
Gonzalo Domínguez Loeda

No próximo domingo, os eleitores da Colômbia decidirão nas urnas o novo presidente do país em um processo no qual tem um grande peso o acordo de paz com as Farc e cujo futuro dependerá em grande parte do novo governante.

O acordo, que vive momentos de crise, é um compromisso de Estado, mas o cumprimento dependerá também da vontade do próximo presidente de desenvolver um pacto que fez com que cerca de 7.000 guerrilheiros deixassem as armas.

Os colombianos estão divididos quase pela metade entre os que consideram que o acordo precisa de mudanças porque é muito generoso com as Farc – agora transformadas em partido político – e os que o defendem em prol da paz.

A dúvida sobre o futuro da paz tem sido alardeada pela coalizão de direita liderada por Iván Duque, candidato pelo partido Centro Democrático e líder de todas as pesquisas de intenção de voto.

Duque tem o apoio dos ex-presidentes Álvaro Uribe (2002-2010) e Andrés Pastrana (1998-2002), principais opositores ao acordo com as Farc e que já mostraram força no plebiscito de 2 de outubro de 2016, no qual lideraram o triunfo do “não”.

Em torno da candidatura de Duque ecoam as palavras do ex-ministro Fernando Londoño, que ameaçou “fazer pedacinhos do acordo” se seu partido chegasse à presidência.

Duque respondeu várias vezes que tal afirmação representa apenas a opinião de um membro do partido, e não a da sua candidatura. Ele garantiu que não quer destruir a herança do atual presidente, Juan Manuel Santos, o que inclui o acordo de paz, mas conseguir um país de “consensos”.

Por isso, Duque mostrou vontade de corrigi-lo, da mesma forma que “algumas das suas políticas econômicas e sociais”. Entre as modificações que considerou necessárias está evitar que os culpados por crimes de narcotráfico possam se beneficiar de anistias e transformar em forçados os acordos para erradicar e substituir os cultivos ilícitos, que agora são voluntários.

Mais contundente nesta posição foi a companheira de chapa de Duque, Marta Lucía Ramírez, de origem conservadora e apoiada expressamente por Pastrana, e para quem fazer rasgar o acordo “é uma irresponsabilidade”.

O mais firme defensor do acordo é o candidato do Partido Liberal, Humberto de la Calle, que foi negociador com as Farc e que, em entrevista à Efe, declarou que a paz está “em risco” com uma vitória de Duque ou do também direitista Germán Vargas Lleras, do movimento Melhor Vargas Lleras.

No entanto, o peso de De la Calle no eleitorado é pouco, pois as pesquisas preveem que ele consiga 3% dos votos, muito menos que os 49,78% do “sim” no plebiscito sobre o acordo entre governo e as Farc.

Outro candidato que apostou no acordo para o período 2018-2022 é o esquerdista Gustavo Petro, do movimento Colômbia Humana e ex-prefeito de Bogotá.

Petro, que foi membro da guerrilha Movimento 19 de Abril (M-19) e que se desmobilizou graças a um acordo em 1991, afirmou que a paz representa mais que o desarmamento das Farc. Não à toa, seu programa de governo tem como título “Para uma era de paz”.

Petro aparece em segundo lugar em todas as pesquisas, mas com um difícil panorama em um eventual segundo turno, devido à polarização gerada por suas declarações.

Os outros dois candidatos, o ex-vice-presidente Vargas Lleras e o ex-prefeito de Medellín Sergio Fajardo, de centro-esquerda, manifestaram apoio ao acordo de paz, o segundo com mais clareza.

No próximo domingo essas cinco visões duelarão nas urnas e, se como indicarem as pesquisas, Duque e Petro forem ao segundo turno, a paz pode se transformar em um tema decisivo na eleição do próximo presidente da Colômbia.

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